É pouco tempo, pouco tempo. Não estamos atrasados, mas sentimo-nos como o coelho de Alice no País das Maravilhas, presos a um relógio que é inevitavelmente mais rápido do que queríamos. Como se vê uma cidade como Munique em apenas um dia e meio? Não se vê, espreita-se de forma fugidia; fazem-se apontamentos para uma próxima visita, uma espécie de lista de tudo o que ainda queremos conhecer quando voltarmos. E guardamos com carinho o que, ainda assim, conseguimos ver, e que nos mostra uma cidade descontraída, com tantas camadas de história que podemos voltar várias vezes sem nunca fazermos o mesmo percurso. Mas onde, é claro, não falta a cerveja. Uma bebida rica e saborosa em cada esquina. E nem sequer fomos a um biergarten.
De alguns sítios de Munique vêem-se as montanhas e esse é um motivo de alegria para quem vive na cidade. Primeiro, porque as montanhas são espaço aberto, de caminhadas no Verão, neve no Inverno, de natureza pura. Mas também pelo que elas prometem. “Do outro lado é Itália! Numa hora estás nas montanhas, mais uma hora a subir e outra a descer e temos o lago de Garda, em Itália”, diz Thomas Deppe, um alemão com um português aprendido durante os anos que viveu no Brasil e que hoje trabalha como guia independente na região. O semblante anima-se durante esta descrição, que promete mais sol e calor do que a fria Europa Central (mesmo que este ano o Inverno tenha sido mais ameno e que, nos dias em que lá estivemos, tenha estado mais quente do que no Porto e em Lisboa).
Thomas conta isto enquanto olha as montanhas, cobertas de neve, que se vêem do topo da torre da Câmara Nova, na Marienplatz, a praça central da cidade. Os turistas, geralmente, preferem subir à torre da Igreja de São Pedro, que fica já ali do outro lado da praça, mas aí é preciso subir a pé cada um dos 306 degraus, enquanto na câmara há elevadores que levam os visitantes mesmo até à varanda. E a vista é tão bonita de uma como da outra, por isso, para quê cansarmo-nos? Sobretudo quando temos tão pouco tempo.
Começamos na Marienplatz porque é aqui que qualquer visita à cidade irá muito provavelmente começar. Porque é aqui o coração de Munique. Porque daqui, a pé ou entranhando-se nas várias linhas de metro, pode partir para qualquer ponto em redor. Escolha o seu itinerário. E aproveite.
Munique clássica
Na Marienplatz há duas câmaras, a antiga e a nova, e nem tente adivinhar qual é qual, porque o mais provável é enganar-se. Porque a nova (Neues Rathaus), de estilo neogótico, com os seus pináculos e rendilhados, parece o edifício mais antigo daquele espaço largo e onde, a certas horas do dia, é comum ver grupos de pessoas de pescoços esticados e cabeça erguida, olhando para um ponto específico da sua fachada. É que lá em cima há um relógio cheio de bonecos que dançam, às 11h e ao meio-dia (e também às 17h, no Verão), contando velhas histórias da cidade — não tão velhas como a fundação de Munique, em 1158, quando todo o burgo era pouco mais do que esta praça, mas suficientemente animadas para que os bonecos dancem, um deles caia do cavalo, os sinos do carrilhão toquem e todos se esqueçam de quem está ao seu lado, durante uns breves minutos.