O mestre Ján Pavol
- A cidade da glória e do aroma mágico da Idade Média, um paraíso do Gótico e do Renascimento, uma galeria única de arte sacra, de gente famosa, de peregrinos e de lendas, a cidade cuja história vale a pena descobrir. Agora, se achas que estou a exagerar, passeia e volta mais tarde para me contar se tenho ou não razão.
Como que respeitando uma ordem, despeço-me de Dana Kristekova e abandono o posto de turismo. Situada no sopé da cadeia montanhosa de Levocské Vrchy, Levoca é uma verdadeira jóia cultural entre as cidades eslovacas, acolhendo um grande número de monumentos arquitectónicos. É necessário recuar até ao distante ano de 1249 para encontrar a primeira menção a uma comunidade então conhecida como Leucha que, tirando partido da importância estratégica ao longo da rota comercial Via Magna, rapidamente atingiu o estatuto de vila.
Sem surpresa, Levoca tornou-se o centro da colonização germânica de Spiš e, pouco anos mais tarde, em 1271, foi promovida a capital da associação dos saxões daquela região. De forma gradual, esta influência esbateu-se, mas Levoca, vivendo uma vida próspera, não se detinha no seu crescimento, com a força e a pujança de um burgo, desenvolvendo-se à custa do comércio e com uma dimensão cada vez mais internacional.
Os habitantes, com uma visão ímpar, negociavam com mercadores de Cracóvia, com as cidades da Liga Hanseática, até com Veneza; os artesãos não produziam apenas para consumo próprio, como também para os mercados e as feiras que tinham lugar na Polónia e na Velha Hungria Unida – e Levoca, sem favores, transformava-se num dos palcos do Renascimento e do Humanismo dessa Grande Hungria.
Sento-me para admirar a beleza estética da Námestie Majstra Pavla. As cores das fachadas das casas burguesas, de um lado e do outro, prendem-nos como os olhos sonhadores de uma mulher apaixonada.
No total, são mais de 60, de estilo renascentista, uma herança viva de uma idade de ouro que atraiu artistas e, graças ao incremento do comércio (ferro, borracha, peles, milho e vinho), fez de Levoca um importante centro cultural – o humanista inglês, Leonard Cox, foi mestre-escola na cidade durante um ano (em 1520) e, já no século XVII, os irmãos Laurenz e Bruno Brewer, proprietários de uma livraria, decidiram criar, no número 26 da Námestie Majstra Pavla, uma tipografia que se manteve em actividade durante mais três gerações com o estatuto de uma das mais produtivas em toda a Hungria e imprimindo livros de uma qualidade marcante para a época.
Alguns turistas alemães caminham sem pressas pela praça dominada pela majestosa igreja católica-romana de Sv. Jakuba, erguida no século XIV (no lugar onde em tempos existiu uma outra) e ainda hoje um dos monumentos mais sagrados de todo o país, com a sua torre delgada da primeira metade do século XIX. Mais precioso, ainda, é o interior deste lugar outrora de culto, na actualidade um museu único da arte sacra medieval (nas décadas que se seguiram à sua construção as paredes foram revestidas de frescos).