Perscruto o altar, em madeira de tília e do gótico tardio, e por ali fico, como que magnetizado, fitando até o olhar chegar a uma altura de quase 19 metros, orgulhoso por estar de frente para um dos mais altos do mundo neste estilo e levantado, em diferentes etapas, entre 1508 e 1517 pelo mestre Paulo, um dos mais famosos escultores da Idade Média (a toponímia da praça presta-lhe homenagem), com obra espalhada por outras cidades eslovacas.
Beleza estética
Mesmo ao lado da igreja, os noivos correspondem às exigências do fotógrafo, recortados por uma bela estrutura com as suas elegantes arcadas que acolhe a câmara municipal e com uma história que remonta ao século XV mas destruída duas vezes, em 1550 e em 1599, na sequência de incêndios – e logo restaurada e ampliada, em 1615, ano em que também foram acrescentados os arcos que decoram rés-do-chão e primeiro andar (que acolhe diferentes exposições). Posterior é a torre sineira renascentista na fachada norte, enquanto a que está virada para sul exibe uma pintura original e outras entre as suas janelas, representando virtudes como moderação, prudência, bravura, paciência e justiça.
Em contraste com estes valores – ou para os valorizar -, a meia dúzia de passos encontra-se a jaula da vergonha, uma estrutura em ferro utilizada para castigar os autores de pequenos delitos durante o século XVI e que conheceu duas outras localizações antes de ser oferecida, em 1933, pela família Probstner e colocada em frente à câmara municipal.
A cortina do céu ameaça abrir-se mas não passa de uma promessa e a chuva volta a cair, ainda que de uma forma dócil. A Námestie Majstra Pavla continua a oferecer-me motivos para permanecer: o museu dedicado ao Mestre Paulo (Ján Pavol), a Casa do Comércio, em tempos abrigo de ourives e cenário de muitas outras funções até ser renovada para receber nos dias hoje os serviços administrativos, mas também a Grande Casa Provincial (Levoca foi desde o século XVI e até finais de 1922 sede da província de Spiš), um projecto do arquitecto de Eger, Anton Povolny, que ajustou na perfeição o seu estilo clássico ao carácter renascentista da cidade, colocando ênfase nas linhas horizontais - e rapidamente considerada como a mais bonita, entre as casas provinciais, de toda a Hungria.
Um menino equilibra-se no seu skate e aproveita a inclinação suave da praça para gozar dos últimos minutos de luz do dia. Veloz, passa em frente da admirável fachada da Casa Thurso (nome de uma família famosa de Levoca que aquí viveu até meados do século XVI) sem lhe prestar atenção, numa atitude de todo impensável para qualquer turista, tal é o encantamento que produz em todos os olhares com as suas cores e os seus esgrafitos do início do século passado. Volto a encontrá-lo, agora com o skate na mão, na parte mais baixa da Námestie Majstra Pavla, recortando uma casa pintada de um verde desmaiado.
A meio da fachada duas palavras: Biela Pani.
Centro da Reforma Protestante no norte da Hungria, a cidade começou a assistir ao seu declínio no século XVII, durante as rebeliões contra a monarquia Habsburgo. Júlia Korponayová, natural de Oždnay, uma aldeia no sudeste da Eslováquia, casa-se por essa altura com Ján Korponay, um dos líderes da revolta. Numa tentativa para recuperar alguns dos bens confiscados ao filho, Júlia Korponayová aceita actuar como espia para o imperador e, com esse objectivo, é enviada para Levoca, então cercada pelas tropas dos habsburgos.