Fugas - Viagens

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Eslováquia: a dama branca num tabuleiro de tantas cores

Esta mulher, imortalizada pelo escritor húngaro Móric Jókai e pelo pintor Viliam Forberger (o quadro encontra-se na câmara municipal), rapidamente se tornou amante do barão rebelde Štefan Andrássy, a quem roubou as chaves da cidade para as entregar ao inimigo, materializando uma ocupação à qual os húngaros não ofereceram qualquer resistência.

O dia desaparecera por completo, à janela do quarto chega um longínquo rumor.

De acordo com a lenda, Júlia Korponayová perdeu os favores do imperador no momento em que aceitou receber cartas dos rebeldes exilados na Polónia. Acusada de traição, foi alvo de torturas e executada a 25 de Setembro de 1714 em Györ.

A Námestie Majstra Pavla está agora envolta no mais profundo silêncio. Algures, nos túneis secretos da cidade, move-se Júlia Korponayová. A Biela Pani. A Dama Branca.

Castelo com vista para o mito

Ainda dei uma corrida mas, quando cheguei à paragem, já o autocarro avançara, sem que o motorista se apercebesse dos meus acenos. Agora teria de esperar mais uma hora. Caminhei ao longo de uma rua bordejada de casas térreas, de matizes vivos, encimadas pelo castelo imponente abraçado por um halo de bruma. Passam poucos carros mas tento a minha sorte. O primeiro detém-se.

- Uma vez, há já alguns anos, vi um programa na televisão sobre um casal eslovaco em viagem pela Nova Zelândia a quem os locais nunca negavam ajuda. Por isso, sempre que vejo um turista, sinto prazer em fazer o mesmo. Queres que te leve ao castelo?

Agradeci mas respondi que não. Já o havia visitado.

- Então levo-te a Prešov. Vou só buscar a minha namorada.

Dávid Bor espera uns segundos e surge Anett, sorridente. Deixo que se sente à frente e o carro circula agora por uma estrada secundária, pelo meio da natureza verdejante. Ao lado, na auto-estrada, a vida parece decorrer com mais pressa.

- É a primeira auto-estrada que temos. Com o dinheiro que pago de portagem posso fazer outras coisas, como jantar fora.

Ao cimo, nas suas cores cinzentas, continuo a avistar o castelo.

Mencionado em crónicas já em 1209 (a torre central data dessa época mas a construção teve início ainda no século XII), o Spišský hrad, com a sua localização privilegiada, desempenhou um papel fundamental para repelir as invasões dos tártaros em 1241 e, ao longo dos séculos XV e XVI, governantes e famílias nobres continuaram a acrescentar fortificações e palácios, até que, já em 1780, perdeu toda a sua importância militar, agravada com o facto de ter sido parcialmente destruído na sequência de um incêndio. Em 1970, começaram as obras de restauro, um esforço compensado em 1993, quando a UNESCO integrou a fortaleza na lista de Património Mundial – e filmes como A Última Legião (2007) e Coração de Dragão (1996) elegeram-no como cenário.

- Sabes que este é um dos castelos mais assombrados da Europa Central? As tropas inimigas tentaram conquistá-lo e nunca tiveram sucesso. Muitas pessoas, em tempos medievais, viam-no como um  ovni. E, claro, há um mito, uma lenda a envolvê-lo, uma história de vinganças em tempo de guerra com os polacos. Há quem diga que o fantasma de Hedviga, uma das protagonistas, ainda hoje deambula por ali e a sua cara surge, de quando em vez, nas paredes do castelo.  

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