Fugas - Viagens

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As boas memórias da feitoria portuguesa em Antuérpia

Não foi o único: outros mercadores e feitores portugueses coleccionaram também obras de Dürer, pintor que fez amizade com alguns deles — na Galeria dos Ofícios, em Florença, conserva-se um quadro que é fruto dessa relação, La Negresse Khatarina, retrato de uma criada do feitor João Brandão. Por cá, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, podemos revisitar um pouco das boas memórias da feitoria portuguesa de Antuérpia e apreciar o São Jerónimo que Dürer terá oferecido a Rodrigo Fernandes de Almada. Foi há quase quinhentos anos, em 1521, pouco tempo depois de Thomas More ter visitado Antuérpia e ter encontrado um certo Rafael Hitlodeu.

Dos velhos cais à arte de Rubens

Haverá quem viaje até Antuérpia só por Rubens, como até Florença apenas pela Galeria dos Ofícios? Não é improvável. Mas se os Uffizzi e a cidade do Arno têm outros encantos, também à urbe de Rubens e de Van Dick não faltam seduções para viageiros de plurais interesses. Quanto às narrativas sobre o esplendor quinhentista das especiarias, a zona do porto antigo pode ser um atractivo: há curiosos percursos temáticos junto aos velhos cais disponibilizados por algumas agências locais. Visita incontornável nessas bandas: o museu MAS, que conta a riquíssima história do porto de Antuérpia.

Também na zona ribeirinha, à distância de uma breve caminhada a partir do Grote-Markt e de Notre Dame, há uma visita estimulante: o museu da Red Star Line, uma companhia de navegação fundada na segunda metade do século XIX. O espaço, utilizado outrora para o embarque de passageiros, é capaz de contar histórias assaz pertinentes: entre 1873 e 1934 a companhia transportou para o continente americano cerca de dois milhões de passageiros, a maioria emigrantes europeus em busca de vida melhor.

A propósito de museus, na rua Wapper fica a casa apalaçada onde viveu Rubens. Aí encontramos (tal como na catedral) um interessante acervo de obras do pintor, filho de presbiterianos e católico por opção. A fé deste prolífico mestre está aí testemunhada. Mas Peter Paul Rubens era um artista completo, era mais do que um crente temeroso de ameaças bíblicas: para uma apreciação de algumas das surpreendentes figurações eróticas na sua pintura é preciso ir até ao Museu Real de Belas Artes, ou um pouco mais longe, ao Mauritshuis, em Haia. Ou ao Museu do Prado, que conserva um magnífico Jardim do Paraíso, pintado a meias com Bruegel, o Velho, além do sedutor As Três Graças, assinado com o seu mais famoso discípulo, Van Dick.

Sardinha assada na Sint-Jansplein

A ágora, larga bastante para ser palanque de mercados populares, também dá pelo nome de Praça de São João e por lá podem soprar aromas culinários dos santos populares ou agitarem-se festejos de vitórias futebolísticas, como sucedeu recentemente.

E não é apenas gente lusa a que frequenta os cafés ou as padarias portuguesas — também os belgas se tornaram entusiastas da doçaria lusitana, sobretudo dos quase universalmente famosos pastéis de nata, iguaria muito estimada tanto em Antuérpia como em Bruxelas, onde a Pastelaria Garcia se tornou ponto de encontro dos apreciadores.

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