Despedimo-nos de Pornthep e entretanto já parou de chover. Olhamos em volta e pensamos: quem diria que, depois desta noite, o mar ia obter esta tonalidade e o sol ia queimar desta forma? Abriu por volta do meio-dia e foi a essa hora que nos esticamos na espreguiçadeira protegida dos raios pela sombra de uma árvore a escutar o embalo bem suave da única ondinha que rebenta junto à praia. De vez em quando, vemos o barco com hóspedes que chegam ou partem, os funcionários a dizerem-lhes adeus.
Para além de nós, só cá estão mais sete pessoas, sobretudo de molho na água. É para onde vamos, sem pressas de qualquer espécie. Entramos e saímos as vezes que queremos. Vamos almoçar com o biquíni molhado porque não lhe damos tempo para secar. E estamos de novo na praia, um olho num livro e outro simplesmente a ver este tudo que é tão pouco (ou será o contrário?): sol, mar, uma ilhota no horizonte. Dizem-nos que para o outro lado da ilha, na praia Kiew Na Nai, o pôr do sol é imperdível. Basta-nos cruzar o resort de uma ponta a outra para lá chegarmos. Três ou quatro minutos. Viemos cedo de mais, mas temos a vantagem de não estar cá vivalma. Sentamo-nos numa cadeira no deck, fechamos os olhos e deixamo-nos ficar longos minutos. Marcámos uma massagem sueca com a terapeuta Yaree que nos há-de deixar nas nuvens, mas ainda temos tempo para isto. O tempo, aqui, corre a nosso favor.
Koh Kood, tempo e espaço
Já praticamente sem memórias do bulício de uma cidade, deixamos Samed para trás e vamos esconder-nos na selva de Koh Kood, a quarta maior ilha da Tailândia (162 quilómetros quadrados) mas uma das menos populosas: dados de 2007 apontavam para pouco mais de 2000 habitantes. A viagem ainda é longa: 20 minutos de barco até Rayong, duas horas e meia por estrada até Laemsok, na província de Trat, (trânsito, buzinas, engarrafamentos, socorro!), e daqui mais uma hora a sulcar as águas azul-turquesa do golfo da Tailândia. Entretanto, bem-vindos ao Soneva Kiri. Ou, se preferirem, welcome to the jungle.
Koh Kood, lêramos no Lonely Planet, é uma espécie de refúgio de uma elite que procura a experiência do isolamento. Assim que desembarcamos percebemos porquê, mesmo que só tenhamos tido ainda um relance da ilha: a vegetação é densa, floresta tropical húmida; as águas cristalinas antecipam experiências memoráveis e, mais do que tudo, parece até que as villas deste Soneva Kiri, a derradeira experiência do luxo ecológico na ilha, sempre estiveram integradas na paisagem. Dá a impressão de termos toda uma ilha para nós, como se à volta não estivesse mais ninguém. Ao tempo que nos prometeram, juntaram-lhe espaço.
Chegamos ao Soneva numa hora de sol forte, o que ajuda a dourar o cenário: a areia fina resplandece, faltam-nos adjectivos para o azul do mar e o verde da vegetação parece ter sido retocado de propósito. Não vemos a hora de cair na água, de boiar de olhos bem abertos para este céu que não acaba. Antes, porém, vamos conhecer a Amp — “De amplifier”, ri-se ela —, que nos recebe descalça no deck sobre o mar. Só mais tarde percebemos a ausência de sapatos. A filosofia do resort, que abriu em 2009, é esta: no news, no shoes. Isto quer dizer que os hóspedes também são convidados a andar de pé descalço (não, obrigada) e que a televisão do quarto, escondida numa enorme mala de viagem, só funciona com vídeos pedidos na recepção. Internet há, mas não em todo o lado, e a rede de telemóvel também não é universal.