Não, a capital da Suíça não é Zurique nem Genebra, as duas cidades mais populosas do país. É Berna, uma cidade que tem tantos habitantes — cerca de 140.000 — como Santa Maria da Feira, em Portugal. Na hora de definirem o assento do governo (1848), os políticos helvéticos consideraram Zurique demasiado germânica e Genebra demasiado francesa. A escolha acabou por recair sobre Berna, no Centro do país, um cantão onde se conseguem ouvir as duas línguas.
A história desta cidade é, contudo, muito mais antiga. Fundada em 1191, nos séculos XV e XVI Berna era já a urbe mais poderosa a Norte dos Alpes. Todavia, um percalço quase a deitou por terra. Em 1405, um incêndio destruiu grande parte do burgo. A reconstrução começou imediatamente e a utilização do arenito ao invés da madeira tornou-se uma das características mais marcantes do centro histórico. Foi este testemunho do urbanismo medieval em vias de extinção na Europa que a UNESCO declarou Património Mundial em 1983.
O burgo é composto por uma encruzilhada de ruas pavimentadas, edifícios com arcadas e fontes que matam a sede ao visitante. Existem mais de 100 fontanários na cidade e só no centro histórico tropeça em mais de uma dezena. Fique de olho nestes marcos do século XVI que lhe aparecerem pelo caminho. Cada um conta uma história ou lenda da região. A maior parte fica no eixo compreendido entre as ruas Marktgasse, Kramgasse e Gerechtigkeitsgasse, mas a mais procurada situa-se na Kornhausplatz e é conhecida pela Fonte do Ogre. Esta criatura assustadora que come uma criança e se prepara para comer muitas mais tem origem numa lenda local. Há diversas leituras mas o objectivo é quase sempre o mesmo: assustar os mais pequenos desobedientes.
As contas do colar
Berna está assente numa península natural protegida em três lados por um fio de água azul-turquesa chamado Aare. A cor deste rio que nasce nos Alpes, num glaciar a 1879 metros de altitude, é, de facto, convidativa. De Verão, nadadores experimentados atiram-se à corrente em busca de um banho refrescante e um pouco de adrenalina. A zona balnear por excelência para onde convergem os bernenses encalorados chama-se Marzili e mais não é que um imenso relvado com piscinas de utilização gratuita para crianças e adultos e acesso directo ao rio.
Outro “desporto” favorito dos bernenses é ir às compras. Com os seus seis quilómetros de arcadas com lojas, cafés com esplanada e bares na cave (alguns deles com aspecto de esconderijo), Berna orgulha-se de ter as galerias comerciais cobertas mais longas da Europa, as “Lauben”. Estas são também um paraíso para os turistas que procuram conceitos diferentes como objectos de design suíço, bonecas centenárias recuperadas, licores de diversos sabores que o cliente pode engarrafar com dedicatórias e muito mais.
Mas atenção à carteira. Um simples café aqui pode chegar aos cinco euros. É nestas alturas que nos apercebemos dos rankings que colocam as cidades suíças no topo das mais caras para se viver, embora com maior qualidade de vida.