Fugas - Viagens

  • Hugo Santos
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Na pegada zero de Melgaço

É aqui que se realizam os tratamentos termais individuais (as águas de Melgaço são indicadas para o aparelho digestivo e respiratório, para doenças metabólico-endócrinas e reumáticas e músculo-esqueléticas e aplicam-se em banhos, duches, vapores, duches-massagens e técnicas respiratórias, por exemplo) e que funcionam o spa, as actividades de lazer e a estética.

Esperam-nos outras águas, activas e naturais. O rafting no rio Minho foi a primeira actividade de natureza a arrancar em Melgaço, há 25 anos, e é indicado, dizem-nos os guias da WhiteWater, para famílias, “dos avós aos netos” — com a vantagem de poder ser usufruído durante todo o ano. Tudo começa no Centro de Estágios de Melgaço, um complexo desportivo e de lazer (tanto estagiam aqui equipas profissionais, de futebol, sobretudo, como um visitante de passagem pode comprar ingresso e usufruir dos equipamentos de lazer) onde nos equipamos, antes de sermos transportados até à Quinta do Louridal. Uma pequena praia, dois raftings e o briefing para evitar banhos indesejados — mas estes fazem parte, certo?

Não é preciso muito: quando nos levantamos para experimentar a posição ao leme, atiram-nos à água fria. Entranha-se e por isso, mais à frente, quando o rio novamente acalma, todo o barco (menos o “timoneiro”) se lança à agua, agora com pose para as fotografias. Entretanto, já rodeámos afloramentos rochosos, passámos troços nervosos de redemoinhos, outros mais vorazes de rápidos (nunca demasiado rápidos). Já falámos do sável, truta, savelha, salmão, lampreia (aqui melhor do que na foz, porque o esforço que fazem para subir o rio enrijece a carne, tornando-a mais saborosa) e observámos uma garça real a sobrevoar o rio. E já olhámos de frente para as pesqueiras, que surgem regularmente numa irregularidade de tipologias, uma das peculiaridades do rio Minho — e alguns dos seus obstáculos (por vezes trampolins) no rafting.

Fazem parte da história e destas paisagens há muitos séculos: muros feitos de pedras de granito que entram pelo rio e servem para a pesca à rede pelas artes do botirão e da cabaceira. São obstáculos artificiais que obrigavam à concentração de espécies, sobretudo as migratórias, que aqui eram apanhadas. Ainda hoje, contam-nos, além da pesca desportiva, servem para complementar rendimentos dos seus proprietários (têm uma espécie de uso comunitário), embora tenham perdido a preponderância e muitas das que vimos estarem em ruínas ou quase (na proposta de alteração ao regulamento de pesca no Minho internacional, 35 quilómetros navegáveis, está prevista a sua recuperação); outras mantêm a imponência.

Já a aproximarmo-nos do final, à vista da ponte internacional de Melgaço, o aviso,

- Remem com força!

- É aqui que os barcos costumam virar.

Para o bem ou para o mal, nenhum vira. Acostamos no Posto de São Marcos, um “antigo local de travessia em batela (barco de madeira) entre Portugal e Espanha desactivado depois da construção da ponte”, contam-nos. Estamos em Espanha — porém, aqui as fronteiras agora são pontes.

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