Fugas - Viagens

  • Hugo Santos
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Na pegada zero de Melgaço

Do rio à serra

É o Trilho das Pesqueiras e não tem qualquer dificuldade. Começamos nos arredores de Melgaço e acompanhamos um ribeiro saltitante onde se avistam antigos moinhos — nós caminhamos numa encosta densamente arborizada, onde o musgo é papel de parede dos troncos e o chão já é um tapete de folhas. Vamos em direcção ao rio Minho e é quando o “encontramos” (estamos muitos metros acima do seu nível) que o nosso caminho se transforma em passadiço: 1,5 quilómetros sem qualquer dificuldade, todos eles disponibilidade para desfrutar da paisagem, ora com vista para o rio, ora envolvidos pela floresta.

Diferente, até porque seria de todo-o-terreno, era o passeio programado para o Planalto de Castro Laboreiro, onde dólmenes e antas testemunham o culto da morte nesta vasta necrópole megalítica. Planos alterados e é a serra da Peneda que percorremos, com Pedro Barbosa, da Câmara Municipal de Melgaço, como guia. Partimos de Castro Laboreiro, raízes celtas e espírito comunitário ainda vivo, para percorrermos a estrada limítrofe do PNPG, contornando a serra da Peneda até Branda de Aveleira. As eólicas são omnipresentes nos topos das encostas exteriores ao parque, quase moinhos quixotescos nesta paisagem agreste,

- e as cachenas

(o maior bovino autóctone da península), ou “cabreiras” porque

- são como as cabras, penduram-se em qualquer lado,

vão-se cruzando no nosso caminho, às vezes marcando o passo. É assim que fazemos a última curva antes de avistarmos a Branda da Aveleira. É de um miradouro, junto à capela de Nossa Senhora da Guia (construção que parece saída do Portugal dos Pequenitos) e por onde passa o Trilho do Brandeiro, que vemos encaixada no vale a “aldeia de Verão” que os pastores construíram para aqui continuarem a alimentar os animais com pasto fresco, quando nas terras baixas (as inverneiras) os pastos já estavam exaustos. Agora, as construções rústicas de granito estão transformadas em alojamentos e a Branda de Aveleira é aldeia turística, entre montes cobertos de pedra ou de vegetação rasteira agora pintada de amarelos, lilases, verdes pardos.

O miradouro de Tibo é paragem obrigatória nestas latitudes. O cenário é deslumbrante, vertiginoso, uma mistura entre o natural e o humano, mas perdemos as coordenadas geográficas

- Branda Bouça dos Homens, a de São Bento do Cando, a da Junqueira, as aldeias da Peneda, Gavieira, Beleiral, Roussas, serras do Soajo, Laboreiro e Amarela, o rio Lima e a Barragem do Lindoso,

que temos a certeza ficam a Oeste. Como a serra da Peneda.

Peneda (em Gavieira, Arcos de Valdevez) deu o nome ao lugar, ao rio e ao santuário que aí se encontra, de Nossa Senhora da Peneda. Chegamos ao cair da noite, as luzes já a acenderem-se e o silêncio diante da igreja só é cortado pelo borbulhar de águas que não chegaremos a ver: é a cascata da Peneda que se despenha de uma altura de 30 metros por detrás do hotel, antigo dormitório dos peregrinos. A igreja situa-se no cimo de um enorme escadório duplo e foi construída entre 1854 e 1875; o culto, esse, vem desde o século XIII e envolve uma aparição, uma pastorinha e uma cura milagrosa. O santuário prossegue para além do largo arborizado onde estamos, desce numa escadaria ladeada de 20 capelas (uma oferecida pelo negus da Abissínia) que descrevem a vida de Cristo e termina num largo onde está um pilar oferecido pela rainha D. Maria I.

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