Fugas - Viagens

  • Hugo Santos
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Na pegada zero de Melgaço

E a enquadrar o conjunto, uma enorme fraga (com vias de escalada) tutela tudo, uma presença quase ameaçadora neste princípio de noite. É o Penedo da Meadinha — nova lenda envolvendo a Nossa Senhora. Não sabemos se é a noite já instalada ou o que é, mas parece haver uma mística especial neste local.

Alvarinho e porco bísaro

Não há viagem a Melgaço que não inclua Alvarinho. E nesse sector há paragens incontornáveis — primeiro o Solar do Vinho Alvarinho, em pleno centro histórico de Melgaço, edifício de granito no interior granítico das muralhas da vila. É nestas ruas labirínticas, à boa maneira medieval, que encontramos o que é conhecido como Edifício dos Três Arcos. É larga a sua história: foi cadeia, tribunal, escola primária, paços do concelho, biblioteca — há 18 anos é a montra para o vinho Alvarinho de Melgaço (e outros produtos regionais: fumeiros, queijos, mel compotas, licores). Estão aqui representadas quase todas as marcas de Melgaço, 25 de 27, e há provas gratuitas (para quem quiser saborear, mais do que provar, há também um bar).

Contudo, não há melhor do que embarcar na Rota dos Vinhos Verdes e da Rota do Vinho Alvarinho. Fazêmo-lo na Quinta do Soalheiro, um dos ex-líbris da produção de Alvarinho em Melgaço, ou não tivesse sido a primeira marca produzida aqui (1982). E é um negócio de família: João António Cerdeira deu o passo inicial e hoje são os filhos, Luís e Maria João, que seguem o caminho, que passa pelo enoturismo para dar a conhecer os seus produtos e o território especial (o vale do Minho, rodeado de cadeias montanhosas que protegem da influência atlântica e criam um microclima especial) onde se produz este vinho verde de características únicas. A importância dada ao território é, aliás, traduzida nas próprias garrafas de Soalheiro, onde este ganhou predominância — questão não de somenos, sobretudo numa altura em que a sub-região de Monção e Melgaço está prestes a perder (em 2021) o exclusivo da produção de vinho Alvarinho, que se estenderá a toda a região dos vinhos verdes.

É Luís quem nos recebe para uma visita guiada à adega com provas e explicações das propriedades organolépticas à mistura — estamos atrasados, a improvisação é a palavra de ordem. Copo na mão, avançamos pelos vários espaços onde os estágios dos vinhos são feitos em barrica (de carvalho), inox e “ovo” (cubas ovais, que permitem a redução natural das borras finas, mantendo um vinho encorpado). São vários os vinhos em prova, incluindo um Reserva 2015,

- Ano excepcional, perfeito,

que será engarrafado na semana seguinte e está a chegar ao mercado com

- maior complexidade de aroma, num vinho mais gordo que se afasta do Soalheiro Clássico.

Temos também o privilégio de sermos dos primeiros a provar a colheita de 2016,

- à partida também perfeita.

Está turva, aroma tropical intenso.

Saímos para um terraço com vista para os montes galegos, cristas de eólicas, colinas negras dos incêndios deste Verão. Mais perto de nós, alguns dos vinhedos Soalheiro que se estendem até à Quinta da Folga, o outro “braço” do enoturismo da família, a nossa próxima paragem. Aqui é um banquete em torno do porco bísaro que nos espera, juntamente com harmonizações de vinhos. Perdoem-nos se as harmonizações se perderam no vaivém de comida e vinhos que nos servem, mas ficam as referências. Pelo prato passam-nos salpicão, presunto, chouriço de sangue, alheira, costelinhas, lombo e cachaço — tudo de porco bísaro aqui criado ao ar livre, numa recuperação da tradição local; passam ainda queijos de cabra e fresco (numa salada com agriões, cultivados aqui), que são produtos de parceiros; sobremesas regionais. Nos copos, todos diferentes para exponenciar as propriedades de cada vinho, sucedem-se Primeiras Vinhas, Terramatter (de produção biológica), Clássico (Alvarinho Soalheiro), espumante rosé (mistura com Touriga Nacional),

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