Fugas - Viagens

  • Hugo Santos
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Na pegada zero de Melgaço

Menos de 24 horas depois, voltamos à água, noutro cenário. E outras dúvidas: o que conhecíamos do canyoning parecia-nos assustador. As dúvidas transformaram-se em medo quando chegamos, com mais quatro companheiros, ao ponto de início do percurso, já depois de nos termos equipado no Parque de Campismo de Lamas de Mouro (agora sem campistas mas com os quatro bungalows que possui reservados todos os fins-de-semana até ao final do ano — em 2018 terá também yurts, tipis e até tendas nas árvores): uma ponte sobre o rio Laboreiro, que aqui é quase um riacho abrindo passagem entre rochas. Nós temos de chegar lá baixo — 10 metros de rappel suspenso. Já referimos que nunca fizemos rappel?

No site Montes de Laboreiro, os organizadores, este canyoning é designado como “water canyoning”, percurso de dificuldade média para quem seja neófito, aconselhado apenas a quem já tenha experiência ou conheça técnicas de alpinismo. Pois, um não redondo a tudo e, ainda assim, é sexta-feira de manhã e não há volta a dar (ou melhor, sabemos que haverá — estão asseguradas escapadas por terra).

Primeiro as indicações e a ansiedade a tomar conta de nós. Desce o N., a M. e lá vamos nós, primeiro caminhando no muro da ponte, depois pendurados, só com a corda a correr-nos na mão enquanto, lentamente, vencemos o desnível — e a certeza de que se algo correr mal alguém lá em baixo providenciará para que não caiamos no vazio. Mesmo assim, ainda é com as pernas trémulas que metemos os pés a caminho, ou seja, na água, para o próximo troço.

O maior perigo agora é escorregarmos, por isso devemos procurar os musgos escuros que cobrem as rochas do fundo do leito e apoiarmos as mãos onde pudermos. Uma curva depois e já só rocha nos rodeia, a vegetação fica mais para cima — estamos na garganta, no canyon. Ainda periclitantes nos passos na água e novo desafio: um salto de uma cascata, seis metros de queda (a nós parecem-nos muitos mais) para um lago encaixado nos penedos.

- Braços junto ao corpo e na entrada podem tocar no fundo, mas será levemente.

Muita hesitação, algumas desistências, atiramo-nos e tocamos realmente no fundo. Caminhar, nadar, mini-escorrega e junta-se novamente todo o grupo para novo desafio “impossível”. Uma queda-de-água numa caverna e mais rappel. Ainda não completámos a descida e já sentimos o peso da água que cai sem complacência no capacete. Mas o consenso que aqui se estabelece manter-se-á até ao final:

- Fantástico,

- Foi a melhor parte.

Novo rappel. Quatro metros apenas, metade em rocha, metade suspenso, quando a pedra se faz côncava. Nadamos e flutuamos, mas o frio ganha e trepamos até uma rocha que o sol aquece. Daqui vemos o desafio final: um salto, com duas opções, seis e quatro metros, mas um pormenor desencorajador — é necessário correr nas rochas para ganhar balanço porque aqui os penedos são convexos.

- Não pode haver hesitações.

A nossa hesitação (e o frio) levam a melhor e nem esboçamos tentativa. Observamos dois companheiros a fazê-lo, de ambos os pontos. O percurso continua, com mais dois obstáculos, mas a experiência preparada para o grupo termina aqui.

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