Fugas - Viagens

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Na pegada zero de Melgaço

Por Andreia Marques Pereira

O concelho mais setentrional do país rendeu-se à sua natureza e nós fomos conhecê-la. Fizemos rafting e canyoning, desbravámos um percurso pedestre, andámos pela serra da Peneda, provámos alguns Alvarinhos e tivemos um banquete de porco bísaro.

De olhos bem abertos. Se não, vejamos: corços, garranos, morcegos e até uma raposa nos escaparam. Se os primeiros foi por termos seguido outro caminho (os garranos acabaremos por ver noutra altura), já os morcegos surgiram várias vezes, e a raposa, pequenina, apareceu, também à noite, junto da estrada, enquanto olhávamos para palavras escritas numa parede.

Parece que andámos de olhos bem fechados — não nos culpem, afinal estamos no concelho de Melgaço, em território do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) e, entre o património natural e o construído, o deslumbramento é constante. Não temos visão para tudo o que cruza o horizonte, seja ele largo em montes que se repetem, seja mais fechado em vales profundos ou na floresta de vidoeiros que nos faz sentir num conto povoado de fadas, duendes ou os locais arganões — poderia até ser a mulher castreja a aparecer, mas não consta que sobrem muitas (excepto no restaurante onde a “conhecemos” em forma de boneca). Ninguém vê lobos, contudo eles andam por aí: Sylvie Amorin, guia na Vertigem Trilhos, já lhes perdeu a conta — “quando nós os vemos, eles já nos viram há muito tempo”.

Apenas levantamos o véu, porém já é fácil perceber por que é que Melgaço decidiu organizar a “Pegada Zero – I Jornadas de Turismo de Natureza”, com quartel-general na Porta de Lamas de Mouro, uma das cinco que dão “acesso” (com informação e recreio) ao PNPG: o concelho mais setentrional do país é uma região bonita por natureza. Por isso, a natureza é, finalmente, chamada ao palco principal, como um motor incontornável de Melgaço que nestes dias se deu a descobrir a quem viesse por bem: se os dois primeiros dias foram reservados, os dois últimos abriram-se ao público, para mostrar a simbiose rara entre natureza protegida e populações que fazem desta zona integrada na Reserva Mundial da Biosfera um caso singular em Portugal.

Nós percorremos estes caminhos serranos vestidos de Outono nos dois primeiros dias e não tivemos oportunidade de participar nos vários workshops ou na primitive race, por exemplo; tão-pouco praticámos arborismo, BTT, escalada, slide ou tivemos baptismo hípico (mas conhecemos a Faísca, a égua do Parque de Campismo de Lamas de Mouro). No entanto, não nos faltou que fazer: a adrenalina andou à solta e o paladar andou em alta — escapou apenas o relaxamento, contudo as Termas de Melgaço já terminaram a temporada.

Rafting, depois canyoning

Mas foi aí que deixámos a primeira “pegada” em Melgaço. E, depois de termos visto o renovado balneário, não nos importaríamos de aí termos terminado — chegámos três semanas atrasados, quando as folhas já cobrem de nostalgia o chão do parque que até parece abandonado, como uma continuação das ruínas majestosas que vemos mais acima, do antigo Hotel do Peso. Se o pavilhão da Fonte Principal (de água carbogasosa, bicarbonatada) impressiona pela elegância da sua arquitectura de ferro e influências Arte Nova (o interior é quase cinematográfico: amplo, com grandes escadarias, janelões enormes), o do balneário, agora um “spa médico” (aberto em 2013), tem a cara de família das estâncias termais do início do século XX, com a sua longa fachada neo-classicista, acrescida de um prolongamento moderno, na zona da piscina dinâmica.

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