- Tudo começa muito antes, antecedendo o nascer do dia, com uma missa que enfatiza o festival. Amanhã, o último dia das celebrações, haverá também lugar para uma procissão que terminará com outra missa para todas as comunidades.
Melinda Augustin, ao contrário dos mais jovens, prefere claramente o lado religioso ao carnavalesco de Ati-Athian.
- Os festejos multiplicam-se um pouco por toda a cidade e estendem-se até às primeiras horas da madrugada. E a festa nunca está dependente das condições atmosféricas: faça chuva ou faça sol, a diversão está sempre garantida. De uma forma ou de outra, todos acreditam que o milagroso Menino Jesus os protege de todos os males, de todas doenças.
Os amarelos, os verdes, os castanhos, os vermelhos, os azuis, todas as cores do mundo estão representadas e tornam-se mais vivas e mais definidas à medida que os grupos, cantando, tocando e dançando, se aproximam de nós, provocando o frenesim entre a assistência, sempre disponível para complicar a tarefa dos seguranças e dos agentes da autoridade no momento em que procuram tirar partido da sua benevolência para posarem ao lado dos mais excêntricos.
E, de quando em vez, o grito ecoa nos céus com algumas nuvens mas não impeditivas de o sol derramar os seus raios com toda a força:
- Viva kay señor santo Niño. Viva kay señor santo Niño.
Aqui e acolá, por entre as plumas, os trajos que são um hino à extravagância, por entre os instrumentos, surge alguém a quem o álcool parece produzir um efeito mais forte do que nos outros. Alguém que, na melhor das hipóteses, não concedeu um tempo de intervalo entre a noite e o dia, beneficiando das regras que fazem de Ati-Athian o único festival em que o consumo nas ruas é permitido. Com Melinda Augustin ao meu lado, não careço de muitas mais informações sobre a história e a tradição deste palco tão propenso aos excessos.
- O nome Ati-Athian significa ser como os Ati ou acreditar neles.
Os negritos, como os espanhóis os designaram, foram os primeiros habitantes da ilha de Panay (e de outras, incluindo Boracay, onde vivem cerca de duas centenas em casas financiadas pelas entidades governamentais) quando ainda era conhecida como Aninipay. Em 1212, ano que coincide com a fundação de Kalibo, chegaram à ilha, provenientes do Bornéu, colonos malaios, carregando com eles não apenas os seus parcos haveres, como também a esperança de uma vida melhor. Mal atracaram os seus barcos, tão ou mais precários do que as suas existências, os olhos fixaram-se de imeditato, com muita admiração à mistura, na majestosa montanha que servia de fronteira natural às três divisões geográficas originais (sakups) que eles próprios viriam a estabelecer: Hamtik (actualmente Antique), Irong-Irong (Iloilo) e Akean (Aklan), que incluía aquela que é nos dias de hoje a província de Capiz. Inspirados pela beleza do lugar e daquele monte que subia nos céus, os colonizadores adoptaram uma nova toponímia, apelidando a ilha de Madyaas e, nesse tempo de glória e esplendor, Madyanos, que significa pequeno paraíso e foi precursor de Akean, a actual Kalibo, tornou-se um centro da vida cultural, intelectual, política e espiritual não apenas da província (denominada namuro ou sakup) como de toda a Katieingban it Madyaas – a Confederação de Madyaas.