Fugas - Viagens

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O "Carnatal" de Kalibo

Melinda Augustin interrompe, por momentos, os meus pensamentos, a minha concentração neste verdadeiro arco-íris com um ritmo forte e que vive permanentemente na antecâmara do clímax, acentuando, a cada instante, o aspecto menos pagão da festa.

- Católicos e mesmo outros que professam diferentes religiões participam nas cerimónias.

Madyaas tinha tudo para ser um paraíso nesse tempo longínquo em que acolheu, com aparente serenidade, homens e mulheres vindos de outras paragens. O cenário convidava a uma comunhão pacífica, como aquela que caracteriza as festividades em honra de Santo Niño, mas a intolerância escondia-se, da mesma forma que os últimos Ati se escondem nos lugares mais recônditos da ilha nos dias que correm, entre as florestas onde poucos se aventuram. Para os negritos, assim apelidados devido à cor da sua pele, a paz era subitamente interrompida pela chegada desses estranhos que ameaçavam roubar as suas terras — e não foi preciso esperar muito tempo para se observar um clima de tensão que se exacerbava a cada dia que passava, um ressentimento mútuo que não tardaria a dar lugar a conflitos manchados pelo sangue de uns e de outros. Mas, pelo menos aparentemente, todos desejavam viver em paz e, embora começando por oprimir os locais que se refugiaram nas montanhas, foram os invasores os primeiros a dar um passo visando um processo de paz, através uma ronda de conversações com os aborígenes que haveria de se transformar num momento épico, celebrado com uma festa como provavelmente a ilha nunca vira e que ainda hoje não se cansa de ver. De repente, a fuligem decorava os rostos dos malaios, a pele enegrecida significava que os colonizadores nada mais pretendiam do que viver em perfeita harmonia com os nativos, apagando o passado, vivendo o presente, imaginando o futuro. Nesse tempo distante, a festa da reconciliação decorria no final da época das colheitas mas, sob o jugo dos espanhóis, passou a realizar-se, como actualmente, após o Dia de Reis — e aquele que era um simples evento na década de 1960, organizado pelo munícipio local, transformou-se na festa de todas as festas.

Com vista para o desfile

A necessidade de encontrar um ângulo diferente para enquadrar as fotografias, a despeito da multiplicidade de cores e de formas dentro da moldura do cortejo, conduziu o meu olhar para uma varanda caiada de branco apenas parcialmente ocupada de espectadores. Rompendo por entre a multidão, ébria de emoções, acerquei-me, com alguma dificuldade e grato por escapar à inclemência do sol, da porta do Museu it Akean, abrigado no edíficio mais antigo (1882) de Kalibo, em tempos a Eskuelahan it Hari, a Escola do Rei, uma designação que presta homenagem ao rei Filipe de Espanha.

- Pode subir e ver a exposição, disse-me, acompanhado de um sorriso, um segurança no momento em que me devolvia o meu cartão de identificação.

Fundado em 1980, o museu é o espaço cultural mais proeminente de Kalibo e contém um verdadeiro tesouro de artefactos, como espadas talibong, peças em madeira e em metal, pinturas de artistas da região, antigas colecções de roupa fabricada com fibras de ananás (uma tradição que remonta ao século XVII e ainda hoje seduz alguns costureiros em todo o mundo) e toda a memorabilia dos mais famosos filhos de Aklan: Gabriel Martelino Reyes, arcebispo de Cebu e Manila, Jaime Cardinal Sin, arcebispo de Manila, e Godofredo Peralta Ramos, conhecido como o Pai de Aklan. 

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