Fugas - Viagens

  • Miguel Madeira
  • Miguel Madeira
  • Miguel Madeira
  • Miguel Madeira
  • Miguel Madeira
  • Miguel Madeira

Continuação: página 4 de 6

À procura da mudança em Hunan

Desde a janela do meu quarto já consigo antever o cenário magnífico que me aguarda. É um daqueles sítios que vi incontáveis vezes em postais, livros e documentários e mesmo assim nada faz justiça à sua realidade. Não perco tempo e começo à aventura. O teleférico (o cartão funciona mesmo!) corta a direito pelas montanhas, deixando antever os primeiros pilares de arenito, com dezenas de metros de altura, como esculturas produzidas pela natureza. Incontáveis caminhos estreitos, passagens naturais, subidas íngremes, ravinas e um constante nevoeiro que me acompanhou durante todos os dias. Noutra altura, noutros destinos, seriam um contratempo. Aqui elevam o encantamento e o misticismo. Nem era preciso a ficção científica do Avatar para conferir a aura de fantasia que aqui se sente! A neblina e as montanhas brincam às escondidas e por vezes o cenário é tão denso que nos pontos mais altos se perde a noção de altitude e distância. Tudo ao redor é cinzento até que, como se alguém soprasse, a névoa dissipa-se um pouco e deixa antever esta maravilha da natureza.

Há pessoas? Sim. Muitas, sempre! Mas também há extensas zonas onde não me cruzo com uma única alma. Também aqui e ali, timidamente, se vêem umas figuras azuis (extremamente parecidas com os Na´vi do Avatar…) em pontos estratégicos para fotos pagas. Obviamente que o parque é um ponto turístico para milhares de pessoas e não faltam condições e infraestruturas (até um McDonalds!) e homens disponíveis para carregar em liteiras quem não quer andar. Porém, acredito que a natureza continua a levar a melhor pois é uma área tão extensa e tão bela que ainda faltará muito para que a mudança atinja o ponto destruidor.

Grande, novo, brilhante

Depois da construção desenfreada de Changsha e da vitória da natureza em Zhangjiajie, rumo agora à vila histórica de Fenghuang, que significa “Fénix”, a mítica criatura que renascia das suas próprias cinzas e cuja escolha de nome não poderia ser mais apropriada. Inicialmente, pela sua localização, era uma cidade que marcava a fronteira entre a civilização Han e as minorias Miao, Tujia e Dong das montanhas a sudoeste. Contudo, e apesar de até se terem erguido muralhas, Fenghuang prosperou como um centro de comércio e mistura de culturas. A diversidade de pessoas resultou numa preciosa localidade, nas margens do rio, povoada por casas de madeira, moinhos, templos e pontes, estruturas que se mantêm até aos nossos dias.

Tal como a fénix, Fenghuang renasceu e reinventou-se. Continua a ser um centro de comércio e de mistura de culturas mas agora apenas assente no turismo. É hoje apelidada pela combinação de palavras que mais me assusta neste país: “Ancient town” (assim mesmo, em inglês). Com toda a certeza, sabia que esta denominação se iria traduzir em mais um bilhete de entrada, em excursões e autocarros parados à porta, vendedores e muitos néons. Contudo, este era um ponto incontornável na minha busca pela mudança que está a acontecer a todos os níveis. Não são só as cidades que estão a ser remodeladas. As vilas históricas são renovadas à imagem do que foram mas com upgrades turísticos: lojas, bares, hotéis, parques de estacionamento, tudo pronto para receber hordas de autocarros e pessoas.

--%>