Skukuza é o camp mais movimentado, é praticamente uma pequena cidade no interior do parque. Outros camps são muito mais modestos e alguns estão situados em zonas remotas, como os da região norte, muitíssimo menos visitada que o sul. Uma opção muito interessante permite escapar à dimensão mais turística e zoológica do Kruger: os bushcamps. São básicos, com cabanas rústicas (alguns sem electricidade); há-os nas redondezas de Letaba, Shingwedzi e Punda Maria. No sul há um, o de Biyamiti, entre Berg-en-Dal e Crocodile Bridge. Entre outras vantagens desta intimidade com o meio está a experiência de percepção dos ruídos nocturnos. Porque o Kruger é como Nova Iorque ou o Cairo: never sleeps.
Nota particular sobre o norte, delimitado sensivelmente pelo Trópico de Capricórnio: imputadamente uma região tranquila e segura, com estradas acessíveis (vias asfaltadas e uma boa rede de picadas transitáveis por veículos todo-o-terreno) e infraestruturas de abastecimento e pousada, deve ser um dos espaços da África profunda com melhores condições para viajar. É lá para as bandas de Pafuri, Punda Maria e Shingwedzi. Mas esse já seria outro capítulo, porventura mais interessante, sobre o Parque Kruger.
Um mosaico da África Austral
Foi há exactamente 90 anos, em 1927, que o Kruger National Park abriu oficialmente as portas. O National Parks Act, o documento fundador daquela que é uma das mais antigas e frequentadas reservas naturais do continente africano, havia sido aprovado pelo parlamento da República do Transval uns meses antes, em Maio de 1926, e através dele operava-se a fusão de dois parques contíguos localizados no nordeste do território, junto às fronteiras com Moçambique e com o território do actual Zimbabwe.
A história do Kruger começa cerca de trinta anos antes, no final do século XIX, quando é criada a Sabie Game Reserve. A constituição deste santuário natural deveu-se aos esforços de Paul Kruger, então presidente da República do Transval. Havia nessa altura uma grande preocupação com a actividade de caçadores motivados pelo comércio de marfim — tal como hoje, aliás: calcula-se que a matança de elefantes em África por causa do marfim tenha aumentado na última década e o Kruger tem vindo a ser vítima de caçadores oriundos de Moçambique, país intermediário na exportação para a China e o Sudeste Asiático, principais consumidores.
O parque abrange uma área de 21.000km2, quase um quarto do tamanho de Portugal. De norte a sul são 350 km, e a distância de condução entre Pafuri e Malelane Gate totaliza 440km. Há nove ecossistemas presentes no território — juntos perfazem um mosaico representativo da África Austral — e uma assinalável biodiversidade: à volta de 150 espécies de mamíferos, mais de meio milhar de espécies de pássaros, 115 tipos de répteis e uma enorme diversidade de borboletas, mais de 200 variedades, além de centenas de espécies de árvores e de plantas. No que toca a estatísticas populacionais dos mamíferos mais populares entre os visitantes (incluindo os chamados Big Five), calcula-se que existam actualmente no Kruger cerca de 130.000 impalas, 12.000 elefantes, 16.000 búfalos, 23.000 zebras, 7000 girafas, 3500 rinocerontes-brancos e 300 pretos, 2000 leões, 2000 hienas, 950 leopardos, 220 chitas e perto de 50.000 antílopes, entre muitos outros animais.