Durante uma semana fico instalado em Galle, a cidade que me serve de base para conhecer algumas das mais inspiradoras praias do sul da ilha. Um dia, vou um pouco para norte, até Hikkaduwa, descoberta pelos hippies na década de 1970 e perfeita para quem se está a iniciar no surf; a maior parte do tempo, recorrendo ao mitíco comboio que liga Galle a Matara, uma linha arrancada pelas ondas do tsunami, passo-o na zona leste, em paraísos como Polhena, a escassos três quilómetros do centro de Matara, onde a vida decorre sem pressa, em Mirissa, mais ídilica ainda e tão próxima de Weligama, onde gosto de me sentar, num rudimentar banco de madeira, olhando os pescadores, as vacas, os surfistas, a minúscula ilha mesmo à minha frente, a Taprobana, refúgio de artistas e escritores, como Paul Bowles, que aqui, neste lugar onde se pode dormir por um pouco mais de mil euros, escreveu The Spider’s House nos anos 50 do século passado.
Ando muito tempo a pé, sempre junto ao mar, esse mar onde as crianças e os adultos passavam muito do seu tempo, mesmo não sabendo (como a maior parte da população) nadar, esse mar que a determinada altura passaram a ver com um monstro que rouba vidas e empregos, destrói casas e deixa milhares e milhares sem um tecto; faço companhia a pescadores, a três crianças de olhos negros e brilhantes que se banham nas águas revoltas do oceano, descubro a excelência da baía de Unawatuna, mais uma praia para sonhadores, percorro-a de uma ponta à outra, aprecio-a do alto de um promontório e, uma vez de regresso às suas areias, inicio uma caminhada mais longa que me irá levar, ao fim de algum tempo, a uma das praias mais isoladas, a Jungle Beach, onde me limito a deixar o tempo passar como se dele nada mais esperasse. Deito os olhos a um mapa, a essa forma de lágrima, procuro localizar as mais belas praias por onde errei ao longo de semanas e a recordação mais vívida que me chega à memória é a de todos os sorrisos que fizeram o favor de me oferecer nesta ilha com tantas lágrimas derramadas.
Guia prático
Como ir
Uma vez que não há qualquer ligação aérea entre Lisboa ou o Porto e Colombo, quem pretender viajar para o Sri Lanka terá, inevitavelmente, de fazer pelo menos uma escala. Diferentes companhias aéreas servem a capital do país mas, atendendo à qualidade do serviço, às horas de escala e à tarifa praticada, duas delas parecem ganhar alguma vantagem sobre as outras — a Turkish Airlines (www.turkishairlines.com) e a Emirates (www.emirates.com). No caso da primeira, tendo como referência, por exemplo, a última semana de Fevereiro e os primeiros dias de Março, espere pagar cerca de 780 euros, devendo contar com uma escala em Istambul. Quanto à Emirates, proporciona preços na ordem dos 830 euros, com uma paragem no Dubai. Não deixe, ainda assim, de fazer uma pesquisa junto de outras, como a Lufthansa e a KLM, ou de tentar destinos próximos e provavelmente mais em conta, tendo em atenção que a AirAsia, por exemplo, serve Colombo desde diferentes cidades do continente asiático. De resto, desde o aeroporto internacional de Bandaranaike, em Colombo, pode optar por um táxi ou pelo autocarro 187, que o deixará no terminal da cidade (Bastian Mawatha) e, desde este, é fácil movimentar-se por toda a ilha, com bons preços mas talvez pouco do agrado daqueles que não abdicam de um certo conforto e que têm pavor à velocidade e a algumas manobras perigosas (prepare-se para ouvir buzinar durante uma grande parte do percurso mas também para viver experiências que permanecerão por muito tempo na memória).