Mérida abandonava o seu estado primitivo e o centro urbano começava a desenvolver-se de forma quadrangular, com ruas às quais somente faltavam as peças para adquirirem a configuração de um tabuleiro de xadrez. Mas enquanto a família do fundador, Francisco de Montejo, reservava um grande terreno a sul da Plaza Mayor para lhe servir de residência, a população autóctone era fragmentada em quatro secções, com os seus bairros e os seus respectivos padroeiros: a sul da praça, San Sebastián; para poente, Santiago e Santa Catarina (actualmente o Parque Centenário); a oriente, San Cristóval e, finalmente, a norte, Santa Lucía e Santa Ana.
Uma divisão segundo os pontos cardeais, tendo a Plaza Mayor como centro, mas na verdade uma forma inteligente e muito clara de delimitar territórios — o centro era exclusivo dos colonos espanhóis e nele começaram a despontar, rapidamente, de acordo com o desenvolvimento arquitectónico definido, edifícios religiosos mandados levantar pelos evangelizadores, como ermidas, capelas, templos e conventos, na sua maior parte virados para poente e decorando praças graciosas que não raras vezes assumiam as funções de átrios.
Mesmo sendo considerada uma cidade com uma arquitectura simples, em parte como resultado da exiguidade de espaço, com as suas ruas estreitas, mas também devido à influência dos franciscanos e da memória sempre presente em quem a planeou de algumas aldeias da Andaluzia, Mérida acolhe um conjunto de monumentos magnificente, como a catedral, situada a oriente da praça onde a vida pulsa mais do que em qualquer outro lado nesta urbe com 830 mil habitantes.
A catedral, apontada como pioneira nas Américas entre as construções catedralícias, foi levantada entre 1561 (pelo mestre Pedro de Aulestia) e 1598 (já sob a responsabilidade do arquitecto Juan Miguel de Agüero) e dedicada a San Ildefonso, destacando-se pelo seu estilo renascentista que é uma mistura entre a elegância e sobriedade.
É domingo, em frente ao Palacio de Gobierno, as mulheres, com os seus trajes típicos, os ternos, compostos por fustán, huipil e jubón, com a cabeça parcialmente coberta por um lenço de um vermelho ferrugem, dançam recortadas por arcos e são por vezes imitadas por casais mais idosos.
Um dia, mais tarde, subo a escadaria do palácio para admirar as pinturas de Fernando Castro Pacheco — cujo centenário sobre o seu nascimento se comemora já no próximo ano — e para apreender um pouco mais, ainda que de uma forma abstracta, sobre a cultura maia.
Mérida é sinónimo de cultura, de museus que visito enquanto prolongo a minha estada, o de arte contemporânea, perto da catedral, o da cidade, com mais de cem anos, o de arte popular, na Casa Molina, na esquina da la Mejorada, o Gran Museo del Mundo Maya, uma viagem pela história e os costumes, e o museu regional de antropologia, num elegante edifício do Paseo de Montejo.
Prometo regressar a Mérida. Um dia. Num domingo.
Pérola do Oriente
Chichén Itzá e Cobá estão próximas. Talvez essa seja a explicação para Valladolid se manter afastada dos olhares do turistas que, cansados de errarem por construções maias, se sentem mais atraídos, ao fim do dia, pelo azul turquesa do mar do que pelo caleidoscópio de cores que é a cidade.