Fugas - Viagens

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México: dois mergulhos no mar e dois banhos em terra

Valladolid, a Pérola do Oriente, merece tudo menos indiferença: segunda em importância de Iucatão, é a cidade mais antiga do estado mexicano, com uma história que remonta a 1543, ano em que foi fundada por Francisco de Montejo, el sobrino. Em tempos mais remotos habitada pelos Cupules, num lugar então conhecido por Chauac Há, Valladolid viu os seus terrenos serem divididos em encomiendas (implicava o pagamento a um mercenário espanhol), ao mesmo tempo que passava a ser consagrada à Virgen de los Remedios e tendo como padroeiro San Servacio — ou Gervasio.

Sinto um prazer redobrado quando caminho pelas suas ruas tranquilas e pitorescas, quando um majestoso edifício de interesse histórico se cruza com os meus passos ou quando, mais para o fim do dia, me sento na sua praça principal, observando as brincadeiras das crianças, a indolência dos mais velhos em conversas que se prolongam pela noite dentro ou simplesmente absorvendo as fragrâncias que me chegam dos seus jardins.

Fortemente afectada por doenças, especialmente a febre amarela, Valladolid foi trasladada para as ruínas do assentamento maia de Zaci (gavião branco em maia), nome que nos dias de hoje designa igualmente um centro artesanal onde se pode comprar tanto roupa típica como pedra talhada ou mesmo joalharia e artigos em couro — e esta não é uma vocação contemporânea, porque já em pleno século XIX Valladolid abrigava aquela que foi a primeira empresa de fios e tecidos do México, antecessora das fábricas do país.

Sendo uma cidade, o ar que se respira em Valladolid tem muito mais de província, de rural do que de paisagem urbana, uma sensação que se exacerba face ao elevado número de heranças coloniais e que se manifesta nas suas mansões e nos seus monumentos históricos.

Uma vez mais sentado na praça (oficialmente o parque Francisco Cantón Rosado), sentindo-me como fazendo parte de um tempo esquecido, permito que os olhos percorram esta atmosfera com uma aura de misticismo, onde os casais namoram em cadeiras dispostas para esse fim, até se fixarem primeiro no Palácio Municipal e, logo de seguida, na igreja de San Servacio (mais atraente quando iluminada), cujo templo actual, construído no século XVIII, revela uma fachada austera com duas torres de campanário, bem como delicados relevos em pedra e o pórtico da estrutura original, do século XVI.

Seguindo para norte, mas a curta distância, descubro a igreja da Candelaria, primeiro o seu exterior, com um admirável pórtico de arcos interiores, logo depois o recheio, com destaque para um retábulo de estilo churrigueresco (barroco mexicano); ainda mais para norte, com Valladolid a revelar-se a cada passo uma surpresa, uma pequena praceta dominada pela igreja de Santa Lucía, templo típico de um bairro com charme e onde a vida parece correr ainda mais devagar. Há outras igrejas, simples mas bem preservadas, como a de Santa Ana ou a de San Juan; mas nem estas, nem nenhuma das anteriormente citadas, se comparam a San Bernardino de Siena, que num passado distante funcionava como o centro do bairro de Sisal e onde os franciscanos edificaram um imponente convento entre 1552 e 1560. No interior, admiro o jogo de luz e sombra, as figuras que se estendem no chão e o contraste com as suas paredes pintadas de um vermelho que vai adquirindo diferentes matizes ao longo do dia. Aqui e acolá, erro pelo exterior para respirar o ar puro da manhã mas também para retirar prazer da contemplação do conjunto de ameias que encimam os muros e dos seus arcos que evocam as fortalezas medievais.

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