Fugas - Viagens

  • JOCHEN TACK
  • JOCHEN TACK/STIFTUNG ZOLLVEREIN
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Essen, a cidade que era triste e cinzenta vive agora alegre e veste de verde

Aos poucos, ainda que sem sair de um espaço fechado, Essen semeia cores no meu espírito, de cinzenta começa a tornar-se cada vez mais verde.

Quase como — pelo menos num certo sentido — a história ligada à família Krupp.
Num momento pioneiro, a empresa proporcionou, num tempo em que o termo bem-estar ainda não fazia parte dos dicionários da relação laboral empregados-patrões, largos benefícios aos seus trabalhadores. Alfred Krupp, como um visionário, percebeu que progresso e lucro estavam directamente associados àqueles que laboravam no dia-a-dia e, nesse sentido, incentivou um conjunto de medidas, incluindo seguro de saúde, um esquema de reformas, casas subsidiadas e uma série de lojas comerciais com ligação à empresa.

— A cidade tem tanto para oferecer, com a vantagem de ser, por um lado, uma metrópole (com centros comerciais, infra-estruturas e espaços culturais) e, por outro, toda a natureza, como se pode constatar nos lagos Baldeney ou novos parques nos antigos terrenos da zona industrial, como o parque Krupp e o parque Zollverein, enfatiza Simone Raskov.

Saio, finalmente, para a cidade, e o Zeche Zollverein XII é o primeiro lugar que encontra, por uma hora ou duas, os meus passos. A mina, construída entre 1929 e 1932, adquiriu esta designação quando dez industriais do carvão e do aço aboliram as fronteiras existentes entre eles para constituírem uma associação (verein) aduaneira (zoll). Era, na década de 1930, quando abriu, com os seis 14 km2 de galerias subterrâneas e onze poços, um exemplo de eficiência e, tantos anos depois, em 1986, no momento em que encerrou as suas portas, ainda o maior produtor de carvão na Europa.

Quinze anos depois, a UNESCO, olhando para o espaço, com o seu estilo Bauhaus, incluiu-o na lista de Património Mundial da Humanidade e Zollverein é hoje, mais de 30 anos após o seu encerramento, um centro onde a vida e a criatividade se sentem e partilham, uma parte memória, outra cultura, com estúdios de arte, com escritórios, com espaços para exposições, restaurantes, performances ocasionais, um verdadeiro exemplo de como transformar um lugar industrial numa zona onde a vida pulsa, como quem regressa aos anos 30, com total eficiência, num contexto diferente, perfeitamente adaptado aos tempos modernos.

Tendo o Zollverein como varanda, deixe vaguear o olhar à volta, por um mar verde, não sem imaginar que, num raio de 30 quilómetros em redor de Essen, quando a mina se encontrava em plena produção, todas as árvores foram cortadas e a madeira utilizada para a produção de carvão.  

Os tempos mudam, como as cidades.

Antes ainda de recordar palavras de Simone Raskov, embrenho-me pelo Red Dot Design Museum, abrigado numa antiga casa de caldeira, adaptada de forma magistral por Norman Foster, o ousado arquitecto inglês: deparo-me com a comunhão entre o espaço e o funcionamento, entre o melhor que se pode ver do design contemporâneo entre as suas estruturas originais, simplesmente bizarro, fascinante, como bizarro e fascinante é deitar um olhar a um velho Audi A8, de 1993, suspenso na vertical, com os seus 180 quilos de alumínio, imperdível num museu que todos os anos conquista prémios – e surgem, aqui e ali, no exterior, as flores, as plantas, sem que alguém desconfie do longo trajecto que tiveram de percorrer para alegrarem, com as suas cores, Essen, como me elucida Simone Raskov.

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