Fugas - Viagens

  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato
  • @kitato

Continuação: página 2 de 6

Argélia, um país sem pressa

Seguimos pela Rua D’Isly na qual tudo é “vintage”: a farmácia Silhadi. Quiosques. Históricas lojas de fotografia. “Tascos” com frescos no tecto… e cavalheiros que nos trocam os euros a um valor bem superior ao câmbio oficial.

A menos que inusitados receios os afastem de lugares degradados, a área mais histórica de Argel é imperdível. Trata-se da alma desta sociedade. Sempre a subir, por quelhos que nos desvendam história e nos transportam a uma envolvente viagem no tempo. Um sinuoso labirinto polvilhado de casas decrépitas e em ruínas, contrastando com o tipo de vida e tradições seculares que resistem. E persistem. Sem vacilar. Vamos encontrando ruas inteiras devotas a profissões específicas. Latoeiros, sapateiros, antiquários, costureiros, padeiros… Crianças que jogam à bola. Idosos que se deslocam lentamente. O muezzinn que chama para a oração. Há estímulos para todos os sentidos…

Há um artesão que sobressai. Pela loja. Pela formação que tenta dar aos jovens, “para que esta arte não se perca”. E porque a sua casa tem um terraço que nos brinda com uma das mais espantosas vistas. O nosso olhar não tem barreiras desde a alta até à baixa casbah, passando por edificações mais elitistas, e desfalecendo no horizonte, no mar. Aquele que alberga um dos maiores portos de África.

Inesperada azáfama aqui no topo. Hoje roda-se um filme histórico. Que inclui soldados. Com armas de pau. Um fascínio enraizado na população. Encontraremos destes brinquedos – bastantes são imitação perfeita - um pouco por todo o país. A casbah vive como sempre o fez. É uma aldeia sem pressa — nem vontade — de perseguir a modernidade.

Um aprendiz do artesão cuja casa visitamos vai-nos guiando para que não percamos alguns pontos que entende interessantes. Até que, percebendo que estamos mais confortáveis em exploração solitária, se despede desejando-nos a melhor das experiências. E age de forma assertiva, para que não tenhamos dúvidas de que a sua companhia foi altruísta, sem nada esperar em troca.

Há uma prisão com muros fotogénicos. O exército não concorda com a nossa ousadia. Será a primeira vez que somos convidados a entrar numa esquadra para justificar as fotos. Não são possíveis, nem desejáveis. Devem ser apagadas. E somos convencidos a evitar repetir a iniciativa junto de instalações militares ou policiais. Ouviremos o mesmo várias vezes…

Incrédulos, deambulamos por uma realidade que nos parece virtual. Estamos embeiçados por Argel e não encontramos visitantes estrangeiros. Em quase duas semanas de incontáveis quilómetros, apenas uma família de gente de outras paragens a usufruir de esplanada. A ausência do turismo, que o terrorismo aniquilou nos anos 1990, torna a nossa experiência ainda mais intensa. Genuína. Profunda. A Argélia já foi dos países mais procurados de África, mas agora ninguém cá vem para confirmar os inúmeros encantos do maior país do Continente: uma preciosidade para quem sonha com destinos estimulantes longe das massas.

A casbah é um espaço fortificado de origem berbere. A de Argel foi fundada sobre as ruínas de Icosium, um pequeno entreposto comercial criado por 20 amigos do mítico Hércules. Foi fenício, berbere e romano. Depois vieram os vândalos e outros tantos se seguiram. Aqui encontramos várias mesquitas históricas como El Djedid (1660) ou a de Ketchaoua (1794). Ao lado desta, o Dar Hassan Pacha, que já foi a mansão mais antiga da cidade. O interior da casa foi reformado em 2005. Infelizmente está fechada ao público. Que seja por pouco tempo.

--%>