Fugas - Viagens

  • Adriano Miranda
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Quantos mundos cabem numa ilha de sol e praia?

O centro de visitantes, em Santa Cruz del Carmen, atravessa a formação da ilha até à evolução etnográfica das populações. “Era uma ilha pequena e afastada do resto, muito pobre e isolada”, indica Catherine. “Quando vim para cá morar, há 40 anos, ainda havia muita gente que ia ao curandeiro.”

Coração de vulcão

É o postal da ilha, não há como escapar-lhe. Com 3718 metros de altura, o Teide é o vulcão mais alto de Espanha e de todo o Atlântico. Um colosso negro de ponta nevada grande parte do ano, que raramente se apaga do horizonte. É como um farol que assinala o coração de Tenerife, que não nos deixa esquecer que aqui estamos. Mas, localizado no centro da ilha, falha em orientar com grande precisão os forasteiros mais inexperientes.

“As nuvens são incríveis. É o Este [da ilha]?”, ouve-se entre os turistas que tentam enquadrar nos ecrãs o cone vulcânico e o mar de nuvens que se espraia aos seus pés. Estamos no miradouro de Chipeque, uma das dezenas de varandas que polvilham a estrada em direcção ao Teide. Lá em baixo, junto à costa, fica Puerto de La Cruz, o primeiro destino turístico das Canárias, entretanto suplantado pela histeria construtiva da zona Sul. As cidades La Orotava e Los Realejos não ficam muito longe dos resorts de Puerto de La Cruz, mas a vista nada alcança para lá desta concha leitosa que os ventos alísios aqui aconchegam durante quase todo o ano.

Tenerife começou a formar-se há 12 milhões de anos nas entranhas do oceano Atlântico, nascendo de erupção em erupção, emergindo em camadas de lava “como uma lasanha”, compara a guia Catherine Michel. Primeiro, três pequenos vulcões, três pequenas ilhas. Até que irrompeu o Teide no meio, “superactivo”, que uniu os vértices numa ilha triangular, a maior do arquipélago das Canárias.

A cada curva da estrada impecavelmente limpa agiganta-se o Teide. “Todos os dias, há quem venha de manhãzinha apanhar as agulhas dos pinheiros para utilizar como fertilizante natural na agricultura ou para fazer camas para o gado”, conta Catherine. Há quem tenha ovelhas, cabras, vacas, mas o solo árido da ilha encolhe os pastos a franjas irrisórias. São, por isso, poucos os animais que se avistam. “A maioria é criada a ração nos estábulos, para uso doméstico e venda de carne aos restaurantes da ilha”, explica.

Um pé na Lua, outro em Marte

De repente, o cenário muda. A sombra húmida da floresta transforma-se em planura árida e pedregosa. Devíamos vir distraídos na conversa, não demos pelo portal que nos deixou noutro planeta. Vénus, Marte, Lua. Parte do Sistema Solar está “ao alcance da mão” nas Minas de São José, lê-se num painel informativo junto ao estéril ondulado de areia, pontilhado de rochedos rugosos e pedras de múltiplos tamanhos. Ao longo dos últimos anos, vários protótipos de rovers do programa liderado pela Agência Espacial Europeia foram aqui testados com o objectivo de um dia aterrarem na Lua ou em Marte. Da civilização terráquea, apenas pequenos grupos de selfies e filas de caminhantes apetrechados de mochilas e bastões.

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