Fugas - Viagens

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  • O pastor Eneko Goiburu
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Em Goierri bate um coração verde

Algumas aldeias são prédios (sim) e casas mais ou menos modernos em torno de uma igreja (normalmente proto-gótica, normalmente enorme e normalmente com o frontão para a pelota basca bem perto); outras cidades têm um centro histórico tão pequeno que na sua rua principal podemos ver, no princípio e no final, os prédios modernos (em Ordizia, por exemplo). Em Beasain o centro histórico é um “complexo monumental”, de seu nome Igartza, que é o núcleo original da cidade.

Rodeados pela cidade, na margem de um ribeiro, erguem-se um palácio (século XVI), de planta quadrada de pedra sobre a qual assentam paredes em enxaimel, uma ermida e um moinho-ferraria (como outros que veremos pela região e que parecem ter sido precursores da indústria actual), que hoje é museu e albergue. Até à década de 1980 ainda se podia ver uma barragem de madeira do século XVI (agora está no Museu Albaola, em San Sebastian e é a única na Europa) — o nosso hotel está na outra margem do rio, à distância de uma ponte com três arcos, e também tem a sua história: começou por ser uma hospedaria, no século XVI, passou a residência até retomar a sua vocação original.

Depois encontram-se aldeias que são autênticos museus a céu aberto. Zerain é uma delas — com o problema de ter apenas 250 habitantes; e a pequena fama de ter sido o local de nascimento do bisavô de Goya. O centro é minúsculo: igreja, antiga torre medieval entretanto transformada em palácio rural, posto de turismo que faz também as vezes de mercearia, a antiga prisão que é um museu, hostel, bar e restaurante, e casa paroquial transformada em edifício multiusos: escola (30 crianças entre os dois e os nove anos), consultório médico (duas horas diárias) e museu etnográfico. A população tem lugar de destaque e há uma fotografia de toda a aldeia a receber os visitantes que primeiro vêem um vídeo e depois transitam entre secções onde se exibem ferramentas agrícolas, utensílios domésticos, objectos religiosos. Tudo doado pelos habitantes. “Este é o resultado do esforço de homens e mulheres que querem continuar a viver como comunidade”, explica-nos a guia. Trabalham em cooperativa para “ligar a história ao mundo de hoje”.

Passámos várias vezes por Segura antes de a visitarmos: chama a atenção, no cimo de uma pequena elevação, parecendo encapsulada, com as traseiras de uma igreja que parece monumental à laia de fortaleza. Não é por acaso, descobrimos, já a esquadrinhar as poucas ruas da vila: foi toda muralhada e a torre da igreja foi torre da muralha. Foi construída na linha fronteiriça entre Castela e Navarra. “O rei Alfonso X queria uma vila segura”, conta Izarra, a guia local. Esta era a primeira de Gipuzkoa e aqui cobravam-se impostos.

Tem uma planta muito especial, Segura: três ruas que a atravessam longitudinalmente antes de se unirem numa só, a desembocar numa das antigas portas, que teve de ser derrubada para que passassem camiões e autocarros. “Ainda assim, muitas varandas foram arrancadas” por estes, comenta Izarra. Caminhamos com a cabeça no ar, já que são palácios muitos dos edifícios que ladeiam as ruas estreitas, brasões rebuscados, portas trabalhadas. Quase todos dos séculos XVI e XVII, algumas vezes intercalados por prédios modernos — uns e outros sem dispensarem a eguzki-lore, “flor do sol”, um cardo que, apesar da proibição de se apanhar, faz parte da decoração das portas, para afastar bruxas e maus espíritos, e, ou, a arbol de espiño, que protege as casas dos raios.

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