Fugas - Viagens

  • Júlia Côta,artesão do figurado
    Júlia Côta,artesão do figurado Paulo Pimenta
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  • Telmo Macedo, o mais novo da família de artesãos barcelenses
    Telmo Macedo, o mais novo da família de artesãos barcelenses Paulo Pimenta
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  • João e Fernando Cunha, artesãos do cobre
    João e Fernando Cunha, artesãos do cobre Paulo Pimenta
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    Art'otel Paulo Pimenta

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Os artesãos sem moldes e outras histórias de uma cidade à conquista da UNESCO

Na casa de Bernardino Coelho, freguesia do Carvalhal, há dezenas de peças não vendidas — mas por opção. Em casa de artesão, artesanato por todo o lado. Aqui, a matéria-prima é a madeira. Fazem-se camas, estantes, bancos, quadros, altares. Bernardino, 55 anos de vida e 44 de trabalho, aproximou-se do ofício ainda na primária, quando os avós tinham os jugos para os bois como negócio maior. Mal chegava da escola já estavam a chamá-lo:
- Ó Dino, anda cá ajudar.Ele ia. E quando chegou à quarta classe decidiu que não queria estudar mais. “O que queria mesmo era estar aqui, não valia a pena continuar”, recorda, sem tirar os olhos da escultura de madeira em que está a trabalhar. Tem ao lado um desenho impresso a cores e é a partir dele que está a criar. “Faço qualquer coisa por encomenda, qualquer coisa.” E as peças novas são as suas preferidas: “Adoro um desafio.”

Para contagiar barcelenses e quem vem de fora, o turismo criou em 2014 o “mundo maravilhoso do figurado”, 19 figuras de artesanato de Barcelos em tamanho XXL (dois a três metros de altura) espalhadas pela cidade. Agora, a pensar nas crianças e nos jovens, têm um programa de visitas guiadas por essas réplicas com um personagem como guia, o Figu. Nesse itinerário vai-se de Barcelinhos até à Rua da Olivença, por ruas, praças e rotundas, e conhece-se a história da cidade a partir das peças dos artesãos locais.

Quem quiser aventurar-se sozinho pode procurar panfletos-guias no posto de turismo — ou encontrá-los online. Ao visitar as peças gigantes faz-se também uma exploração dos principais pontos da cidade: a igreja Matriz, o Templo do Senhor do Bom Jesus da Cruz, a Torre Medieval ou o Museu da Olaria, a feira (sempre às quintas) ou nas margens do Cávado. Nas casas dos artesãos, onde se chega melhor de GPS ligado, conhecem-se as costuras desta identidade. Ouvem-se as histórias na primeira pessoa.

Júlia Côta emociona-se sempre que fala do quanto andou para aqui chegar. Para criar os sete filhos e fazer a sua “casinha” passou “muita fome”. Faziam-se coisas inimagináveis nos dias de hoje para fintar a miséria. “Imagine que em vez de pincéis usávamos o pêlo do gato. Cortávamos um pedaço, atávamos com um fio, púnhamos um pauzinho na ponta e já está.” Foi difícil chegar aqui. Mas agora que pensa no futuro já se põe a sorrir. A filha Prazeres rendeu-se às bonecas — “e olha que bonitas são”, diz de orgulho não disfarçado. A bisneta, Júlia também, já faz umas “coisas lindas”. A família Côta continuará por aí. Mas enquanto tiver forças, Júlia não deixará o barro.

- Não vivo sem isto. Quando estou mais em baixo a minha filha diz-me logo: “Ó mãe, acabou o barro? Vamos comprar!”
Das suas criações está farta de ver cópias por aí. “Olhe que é indecente. Eu tudo o que faço sai daqui”, diz, apontando para a cabeça com tom de voz indignado. Mas Júlia Côta decidiu não se ralar em demasia desde que lhe juraram que original só mesmo ela. É que há fórmulas que não podem mesmo ser plagiadas: “Os meus moldes são as minhas mãos.”

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