Se dúvidas houvesse sobre o grau de satisfação desta viagem, a prova é que, na chegada a Aveiro, muitos passageiros não arredam pé e ficam a ver (e a fotografar) as manobras da locomotiva que vai inverter a marcha e mudar a composição para outra linha, onde ficará estacionada.
“As pessoas gostam cada vez mais de experiências e isto é uma boa experiência”, diz um funcionário da CP que costuma acompanhar este comboio. “Elas entusiasmam-se com isto e mal saímos de Aveiro já estão a pôr as fotografias no Facebook."
Comboio histórico do Vouga
Aveiro – Macinhata do Vouga - Aveiro (72 quilómetros ida e volta)
Partida: 13h40; chegada: 19h01
Preços: 29,50€ adultos; 26,50€ crianças (30% de desconto nas viagens de ligação a Aveiro)
Datas: sábados até 30 de Setembro
Miradouro
O comboio chegou com uma hora de atraso cheio de passageiros felizes
É bonito, colorido, espaçoso, robusto e barato. E tem um ar vintage. O novo comboio turístico que a CP (re)colocou a circular na linha do Douro é, na verdade, um inter-regional regular, com tarifas normais e acessível a qualquer passageiro que nele queira viajar, sem outra condicionante que não seja a obrigação de reserva de lugar. Chama-se Miradouro e é composto por carruagens suíças dos anos 1940 e 50 que possuem janelas amplas que se podem abrir para contemplar a paisagem. A experiência custa apenas 9,60 euros do Porto à Régua ou 11,50 para o Tua.
O Miradouro parte diariamente da estação de São Bento às 9h25 e chega às 12h28 ao Tua. Este em que a Fugas viajou chegou ao destino com uma hora de atraso, mas com uma centena e meia de passageiros nada aborrecidos. Já veremos porquê.
Por enquanto saímos de São Bento sob os disparos das máquinas fotográficos dos turistas — que àquela hora já arribam à estação que é um spot turístico obrigatório da Invicta —, e que estranharam aquele comboio com um ar de século XX, mas bem pintado e colorido. Em Campanhã entra o grosso dos passageiros. Segue-se Ermesinde às 9h43. A partir daqui, o Miradouro deveria lançar-se numa correria de uma hora e 45 minutos, sem parar, até à Régua. Mas isso não vai acontecer.
Olhemos para dentro. As carruagens, em tons creme e amarelo torrado, têm um ar pouco sofisticado. São simples, robustas, espaçosas e os assentos confortáveis. As janelas são largas e a luz entra a jorros.
Trata-se das carruagens Shindler. E se fazer turismo também significa experienciar e aprender para melhor fruir, aqui fica a explicação: as Shindler foram compradas pela CP à Suíça entre 1948 e 1950 para serem utilizadas nos suburbanos da linha de Sintra. Mas rapidamente foram afectadas aos comboios de toda a rede, acabando progressivamente por se circunscreverem às linhas do Minho e do Douro, do qual passaram a fazer parte da sua geografia ferroviária até ao final do século XX.
Em 2009, um presidente da CP insensível ao seu potencial turístico, mandou demolir praticamente toda a frota desta série. Salvou-se uma para o museu ferroviário — a que tinha transportado a urna de Salazar no seu funeral de Belém para Santa Comba Dão. Felizmente que, em 2004, antes da demolição da frota, a empresa tinha recuperado oito destas carruagens para serem transformadas no Comboio do Vinho do Porto: uma composição destinada a comboios charter numa parceria pouco frutuosa entre a CP e as quintas do Douro.