Lubos Pokrifcak é eslovaco e a sua namorada Rebeca Ortega é espanhola. Estão de férias em Portugal e viajavam entre Lisboa e o Porto no Alfa Pendular quando viram um filme promocional sobre o comboio histórico. Decidiram logo ali realizar a viagem. “Muito bom! Genial”, dizem ao mesmo tempo, sublinhando a beleza da paisagem. Mas referem ambos que o poder ver a manutenção da máquina durante a viagem, a tomada de água, o contacto com as estações onde os ferroviários ainda recebem os comboios na agulha de entrada com uma bandeira, tudo isso faz parte da experiência da viagem. “É como viajar no tempo”, diz Lubos, que elogia ainda o “minucioso trabalho de recuperação destas carruagens”.
De novo em marcha, faltam 15 quilómetros até ao Tua. São mais 20 minutos de puro prazer. Rio e linha férrea distam às vezes poucos centímetros. Há quem comente que saberia bem um mergulho refrescante nas águas do Douro. A velocidade não é grande. O comboio histórico do Douro não passa dos 50km/hora. Pelo menos, presume-se que assim seja. A locomotiva não tem conta-quilómetros, mas os maquinistas calculam a velocidade pela pressão da caldeira.
Vista do rio, a paisagem é majestosa: a máquina com o seu penacho de fumo e as cinco carruagens de madeira a saltitar atrás. É esta a visão de quem está no Tua à chegada do comboio. Dentro da composição, há quem tenha um calafrio ao passar pela ponte metálica sobre o rio Tua. “Ui! Isto é tão alto!” E há quem resmungue ao avistar o paredão da inestética barragem que a EDP ali construiu, destruindo a linha de via estreita do Tua.
Dessa icónica linha restam algumas carruagens e vagões abandonados na estação de Foz do Tua. Uma estação que é uma espécie de museu ferroviário vivo e que também já se rendeu ao turismo, pois no seu átrio há bancas com venda de produtos regionais.
A 0186 — a verdadeira vedeta deste comboio — é desatrelada e vai entrar numa plataforma giratória para inverter o sentido da marcha. Trezentos e sessenta graus depois, está agora com a frente voltada para a Régua e vai outra vez abastecer-se com mais água. Encheu os depósitos na Régua, no Pinhão e no Tua. Ao todo, 24 mil litros de água. Na viagem de regresso, como é a descer, não vai precisar de abastecer a meio do percurso.
Esta “velha senhora” tem 92 anos de idade. Foi construída na Alemanha em 1925 pela Henschel & Sown e enviada para Portugal como indemnização da I Guerra Mundial. Andou pelo Alentejo e Algarve a rebocar comboios de passageiros e de mercadorias até aos anos 50 e foi depois transferida para o Douro e Minho, onde acabou os seus dias em meados dos anos 70. A CP “ressuscitou-a” trinta anos depois.
E as carruagens? Três delas datam da década de 30 do século passado. Uma fazia os suburbanos do Porto e duas circularam na linha da Beira Alta. Mas há ainda mais duas carruagens curiosas, divididas por compartimentos que separam a 1.ª e a 3.ª classe e ainda um pequeno furgão para guardar mercadorias. Estas terão sido construídas nos finais do século XIX ou nos primeiros anos do século XX.