É cada vez mais frequente esse casamento entre castas nacionais e estrangeiras. A Quinta de Sant’Ana se optou por essa combinação. João Barbosa, herdeiro de uma família que teve grande importância no sector (Caves Dom Teodósio) e que em 1997 criou uma empresa com um projecto que quer pequeno, cultiva variedades portuguesas e estrangeiras por uma razão: "São as castas que produzem vinhos de que eu gosto, e como somos pequenos, ainda nos podemos dar a esse luxo".
Há ainda assim quem pense o contrário. Os líderes da Monte Cascas, Frederico Gomes e Hélder Cunha, dizem que "os nossos olhos vêem um Portugal único, cheio de surpresas, castas, solos, enfim terroirs, que nenhum outro país tem. As castas portuguesas exprimem melhor o carácter dos vinhos das nossas regiões».
O perfil "Novo Mundo" das duas regiões não se observa apenas na liberalidade com que se aceita a importação de castas estrangeiras. Até a própria certificação e regulação da denominação de origem é por vezes questionada. O responsável da Fiuza & Bright, por exemplo, diz que as várias DOC «não fazem sentido e criam confusão ao consumidor». José Pinto Gaspar, presidente da CVR Tejo, contesta dizendo que as DOC têm a importância de, "numa linguagem vitícola, designar aquilo que pode ser diferente e exclusivo". E admite que no Tejo, tal como em Bordéus, possa haver designações mais restritas.
E se eles se unissem?
Quando da reorganização do sector do vinho decretada pelo Governo de José Sócrates, era ministro da Agricultura o pouco popular Jaime Silva, chegou a pensar-se na fusão das duas Comissões Vitivinícolas Regionais (CVR). As negociações não chegaram a bom porto. Passados quatro anos, o tema volta a colocar-se. Das fontes indagadas, apenas Luís Costa, membro do conselho-geral da CVR Tejo, admitiu haver conversas. "Estão em curso negociações com vista a uma eventual fusão". Luís Costa (administrador da Falua) não quis adiantar mais pormenores.
Para Giovanni Nigra, da Fiuza & Bright, diz que as vantagens dependem da forma como for feita a fusão. José Neiva Correia, da DFJ, diz ser, desde o primeiro momento, um dos que mais defenderam a união de Lisboa com o Tejo. "Tal permitirá uma dimensão totalmente diferente para promover os nossos vinhos nos mercados internacionais. Para além disso, os custos associados à certificação, e burocracia inerente, serão menores aproximando-nos na concorrência com outras regiões mundiais".
Frederico Gomes e Hélder Cunha formam um dos rostos das novas apostas (Monte Cascas) não vêem vantagens na união, uma vez que «são regiões muito distintas». Hoje Lisboa e Tejo não são cadastro; "para nós é currículo, mais o Tejo, que está a subir muito na exportação e é a nossa maior aposta" — diz Maria João Viana, directora-geral da Enoport.
A Enoport é uma das maiores empresas vitivinícolas portuguesas e resulta da fusão de várias empresas históricas. Em Lisboa o negócio é pequeno, reduzido a Bucelas, e o grosso está no Tejo. Ao todo factura 30 milhões de euros, dos quais 65% na exportação.