A empresa tem vindo a mudar a agulha, mas ainda tem um negócio importante nos vinhos de mesa, que se utilizam para cozinhar. O preço da uva tem vindo a aumentar, o que tira competitividade. Ao mesmo tempo a região do Tejo tem conhecido melhorias na percepção de qualidade , explica Maria João Viana.
As três miniaturas à volta da capital
A Companhia das Quintas tem duas propriedades na região de Lisboa: Pancas e Romeira. Na primeira faz sobretudo tintos. Todos regionais Lisboa, porque a DOC Alenquer não dá benefícios às vendas. Na segunda só faz brancos, tirando partido da casta arinto, que em Bucelas atinge o seu esplendor. Outra denominação sub-regional é Colares, situada nas areias junto ao mar. Antigamente faziam-se palhetos, hoje a lei obriga a separação por cores. Nela reinam as castas Ramisco (tinta) e Malvasia de Colares (branca).
Carcavelos é um caso à parte, pois trata-se dum generoso. O marquês de Pombal produzia-o na sua quinta de Oeiras e introduzia-o na demarcação do Douro, sendo a única excepção.Nesta pequena zona de produção só há dois produtores: uma parceria entre organismos públicos e o outro é o Seminário de Caparide, que gere as vinhas das restantes quintas (Samarra, Pesos, Mosteiro de Santa Maria do Mar). A estas soma-se meio hectare plantado por um médico, apaixonado por este néctar.
Em 1983 foi plantada a primeira vinha, com bacelos da Quinta do Barão. Estrela Carvalho, enóloga especializada em aguardente, juntou-se ao projecto, defendendo a utilização de aguardente da Lourinhã (uma das três regiões vinícolas mundiais que só produzem destilado), que pensa ter estado, desde sempre, ligada aos vinhos de Carcavelos.
Um dos problemas do Carcavelos é a falta de conhecimento. Há poucos registos e os vinhos têm estilos muito diferentes nas diversas casas. «A Quinta da Belavista fazia seco e depois fortificava no início da fermentação, para depois fazer a união. A Quinta do Barão fazia a vinificação a meio da produção», diz Alexandre Lisboa, responsável pelos espaços verdes da Câmara de Oeiras.
Uma referência do Rôhne perto de Lisboa
Monte d’Oiro, porque quando o Sol se põe, o monte aloira-se, ganha tons dourados. Essa é a justificação do nome da quinta dos arrabaldes de Alenquer, em Freixial de Cima, a cerca de 50 quilómetros de Lisboa que ganhou fama com os seus vinhos baseados nas castas da Côtes du Rhône. Uma estratégia que hoje é muitas vezes citada como exemplo da transformação da região. Com esta quinta (não a única), a Estremadura, designação antiga, conseguiu mostrar que além de quantidade também pode fazer vinhos de grande qualidade.
José Bento dos Santos fez fortuna a negociar metais, actividade que mantém. Comprou a Quinta do Monte d’Oiro, em 1986, mas era o seu pai quem mandava na propriedade. Mas José já a conhecia. A sua mãe, natural de Vila Chã, levava-o a passar férias na zona. "A Quinta do Monte d’Oiro é, primeiro que tudo, um investimento na terra onde a minha família teve as suas raízes. Na altura, tinha uma actividade intensa enquanto broker de metais e lembro-me que um colega, e grande amigo, me disse que a terra é a commodity mais escassa do planeta", explica José Bento dos Santos.