Fugas - Vinhos

Miguel Manso

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Os deliciosos dilemas do vinho para o bacalhau

E depois, se em vez de um tinto for um branco? Há juízos feitos sobre o tinto que se podem aplicar aos brancos. Por exemplo, o de pôr de lado qualquer tentativa de pensar num vinho marcado pela potência aromática da sua fruta jovem e ainda menos pela sua doçura. Sobram ainda assim muitas opções. A começar a dos brancos com madeira, principalmente a nova geração de vinhos fermentados em barrica e sujeitos a estágios com contacto do vinho com as borras finas. Vinhos com corpo suficiente para romper a patine do azeite e do bacalhau, com complexidade para uma harmonização e, de preferência, mais inspirados numa fruta controlada mas existente do que na ditadura da madeira. Há, felizmente, cada vez mais vinhos assim.

Aqui e ali, talvez com mais predominância na Bairrada, há vinhos jovens sem madeira que, pela natureza da região ou pelas castas que emprega, ficam bem no diálogo com o bacalhau. São, por natureza, vinhos mais secos ou com um volume de boca mais exigente. Há também vinhos secos que nos chegam do Pico que se ajustam na perfeição ao desafio. E há, claro, boas escolhas entre os brancos produzidos a partir das nossas três grandes castas brancas: a Arinto, a Encruzado e a Alvarinho. Nesta casta, vale a pena manter os padrões de sempre e experimentar vinhos com mais mineralidade e menos fruta jovem. Mas a Encruzado é talvez a casta que melhor se adapta ao jogo com o prato nobre do Natal. Porque os seus vinhos têm peso e estrutura suficiente para a relação; porque têm uma acidez geralmente muito bem balanceada; e porque são por regra contidos na sua exuberância aromática.

Então se tivermos em mãos um Encruzado com uns anos de garrafa (por exemplo, um Quinta de Carvalhais de 2007 ou 2008), chegaremos ao melhor dos mundos. Não o tendo, nem tendo vinhos velhos, nem vinhos muito caros, não é caso para desesperar. Talvez seja mais fácil encontrar o bom bacalhau e arte para o demolhar como deve ser do que ir a uma garrafeira ou a um supermercado nas imediações e encontrar um vinho à altura. Bacalhau carne ou peixe, com branco ou tinto? Com dilemas destes até é bom lidar.

Quinta da Gaivosa 2011
Quinta da Gaivosa
Preço: 34,90€
Sabe-se que a Gaivosa faz grandes vinhos nos anos vintage e 2011 não é excepção. Este Gaivosa é um vinho que irradia impressões balsâmicas (caruma, aromas de bosque), fruta preta elegante e sofisticada, onde tudo parece situar-se em proporções perfeitas. A origem em vinhas com mais de 80 anos, onde dominam as castas Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinto Cão, confere-lhe elegância, profundidade e grandeza e a altitude e exposição garantem-lhe uma notável graça e frescura natural. O seu recorte e a sua fineza garantem uma relação óptima com o prato maior da noite de Natal. M.C.  

Zagalos Reserva 2010
Miguel Louro, Estremoz
Preço: 12,50€
Ao seu quinto ano de vida, este vinho conserva uma magnífica carga aromática, tanino vivo e uma acidez vibrante. Mas a segunda marca da casa de Miguel Louro é desde já uma proposta tentadora. Sedutor na expressão de fruta madura, algum fumado temperado por notas vegetais, tenso pela natureza dos seus taninos, fresco pela boa acidez no final de boca, é um belíssimo vinho, com uma delicadeza aromática e um veludo na boca que se ajustam na perfeição ao bacalhau. E está à venda por um preço muitíssimo razoável para um espécimen desta complexidade e gabarito. M.C.   

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