Fugas - Vinhos

Miguel Manso

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Os deliciosos dilemas do vinho para o bacalhau

Vila Santa Reserva 2013
João Portugal Ramos, Estremoz, Alentejo
Preço: 10€
Não é preciso gastar muito dinheiro para se chegar a um óptimo vinho. Acontece com este Vila Santa, alentejano da região fina de Estremoz. É impossível não gostar deste vinho. Pela complexidade do seu aroma, com propostas de fruta madura, especiaria e boas notas de madeira (passou nove meses em barricas de carvalho francês e americano), mas principalmente pela sua fineza na boca. Não é um vinho mole (longe disso), mas não é um vinho bruto, com fruta opulenta ou tanino vegetal para assoberbar o bacalhau. O que distingue este vinho é pelo contrário a harmonia e o perfil sofisticado de prazer que proporciona. M.C.  

Regueiro Primitivo 2014
Quinta do Regueiro, Melgaço, Vinhos Verdes
Preço: 13€
Um Alvarinho com a garra de uma vinha velha e já com um par de anos de garrafa é sempre um belo desafio para o bacalhau e o azeite. Principalmente quando, como é o caso, em causa está um Alvarinho com as impressões digitais da casta mas com uma expressão de fruta distinta, mais contida, e uma acidez tensa que o tornam mais másculo do que o habitual. Ou seja, é um vinho com alma. Ou com complexidade, se preferirem. No nariz, mostra aroma de polpa de maçã, notas tropicais, sugestões de pêssego e fumo, num conjunto muito atractivo e sedutor. Volumoso, com uma acidez cítrica no final de boca a equilibrar a sua sedosidade e volume, é um branco que marca o palato, confirmando a sua excelente aptidão gastronómica. M.C.   

Morgado de Silgueiros, Encruzado 2015
Adega Cooperativa de Silgueiros, Dão
Preço: 4,20€
Aroma de maçã ácida, presença ténue da barrica que ainda assim confere sofisticação e densidade ao nariz. Um branco sedoso, muito intenso e fresco, gordo sem ser cansativo, tenso sem ser agressivo é um primor no balanço, uma obra notável na persistência e uma delícia no final de prova, quando a fruta assertiva se tempera com notas resinosas da barrica. Um daqueles vinhos que exige comida, como se recomenda aos grandes vinhos. Um belíssimo branco, gastronómico, vivaz e com graça, que ficará muito bem com o bacalhau e tem até garra para o final do jantar, quando à mesa chegar a indispensável tábua de queijos. Uma excelente proposta a um preço muito apetecível. Um exemplo de um Encruzado do Dão bem trabalhado, do qual vale a pena adquirir algumas garrafas e esperar pelo seu envelhecimento. M.C.   

2221 Terroir
Cantanhede 2011
Adega Cooperativa de Cantanhede/Caves S. João, Bairrada
Preço: 42,90€ (em domvinho.com)
Uma grande co-produção da Adega de Cantanhede e das Caves S. João, ou se preferirem dos enólogos José Carvalheira e de Osvaldo Amado só podia dar no que deu: num grande vinho. Aromas de fruta vermelha madura, notas balsâmicas, sugestões de especiaria configuram um nariz atraente e muito delicado. Na boca mostra uma estrutura poderosa, com tanino preciso, firme mas elegante, uma sedutora textura, uma harmonia notável e um final delicioso. Um Bairrada de estirpe superior, muito gastronómico, que se bebe já bem mas que ainda tem uma longa vida na garrafa. Uma proposta mais musculada para o prato de Natal, mas nem por isso de menor gabarito. Pelo contrário, o equilíbrio entre a finesse e a pujança deste vinho garantem uma harmonia inabalável. M.C.   

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