Fugas - Vinhos

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Borgonha, uma viagem pela Terra Prometida do Chardonnay e do Pinot Noir

Na aparência, mesmo com o seu famoso cruzeiro, é uma vinha como muitas outras da região. Nem sequer é a mais bonita. Mas, na verdade, La Romanée-Conti é mais do que uma vinha, é um lugar mítico, uma atracção onde se vai peregrinar e fotografar. O que tem de tão especial? Uma identidade renomada e secular, um solo extraordinário de argila e calcário partido (o ideal para o Pinot Noir e para uma boa drenagem da vinha), uma excelente exposição e um longo historial de vinhos sumptuosos.

Cada uma das suas cerca de 22.500 videiras (a distância entre bardos é de apenas 1,40 metros e entre videiras é de 80 centímetros), todas de Pinot Noir,  vale ouro. Por ano, La Romanée-Conti produz, no máximo, cerca de 6 mil garrafas. O preço varia de colheita para colheita, mas chega ao mercado sempre a uns bons milhares de euros. Em 2014, num leilão em Hong Kong, a Sotheby`s vendeu uma colecção de 114 garrafas de Romanée-Conti (seis garrafas por colheita desde 1992 até 2010) por 1,62 milhões de dólares! O vinho é vendido apenas em caixas de doze garrafas, mas só uma é de Romanée-Conti. As outras 11 são de outros grands crus da mesma casa: La Romané-Saint-Vivant (2), La Tâche (3), Les Richebourg (2), Grands Échézaux (2) e Échézeaux (2).

O vinhedo original de La Romanée-Conti foi plantado no século XV pelos monges de Saint-Vivant e só ganhou o nome que tem hoje em 1794, 34 anos depois de ter sido comprado pelo príncipe Louis François de Bourbon-Conti. A vinha actual foi plantada em 1945, depois de a anterior ter sido dizimada pela filoxera. Já tem 72 anos, mas continua espantosamente viva e homogénea. Está na posse de uma sociedade detida pelas famílias de Lalou Bize-Leroy e de Aubert de Villaine, o grande poeta-filósofo da Borgonha, o monge cisterciense dos tempos actuais que dirige a sociedade. “Nós somos os guardiões de uma certa filosofia do vinho e estamos especialmente atentos à perfeição dos detalhes. Um grande vinho é produzido na vinha. (…) Somos os parteiros dos nossos grands crus, mas está tudo na natureza”, resumiu, um dia, à revista Vigneron.

Villaine não estava na vinha e chegar até si requer ter bons contactos ou ser um bom cliente dos seus vinhos, embora quem o conheça sublinhe a sua simplicidade e simpatia (ao contrário de Bordéus, na Borgonha os viticultores, mesmos os mais ricos, são verdadeiros camponeses). Mas andava um homem a lavrar, um homem e o também já famoso cavalo da Romanée-Conti, peça essencial da viticultura biodinâmica que ali se pratica. Uma mulher (encarregada?) acompanhava o homem e o cavalo.

Tentámos conversa. Quantos anos tem a vinha? Qual é densidade de plantação? Um pouco a custo, o homem foi respondendo – a mulher ouviu apenas -, mas, mal escutou a palavra “jornalista”, remeteu de imediato para os responsáveis do Domaine cuja adega e escritórios se situam mesmo no centro de Vosne-Romanée. Nem vale a pena tocar à campainha e pedir para falar com alguém ou espreitar apenas a adega. “N`est pas possible, désolé”, receberá como resposta, se não tiver visita programada. Foi o que nos aconteceu.

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