Fugas - Vinhos

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Borgonha, uma viagem pela Terra Prometida do Chardonnay e do Pinot Noir

La Tâche e Cros Parantoux

Um pouco mais acima de Romanée-Conti, a menos de 300 metros de distância, numa encosta com uma vista prodigiosa sobre Vosne-Romanée e os lugares vizinhos, encontrámos Jean-Luc Reillart a esticar arames. A vinha, já com bastante idade e um solo pedregoso, parecia promissora. “A minha vinha são estes três bardos”, esclareceu logo, sorrindo. Três bardos apenas. Uma vinha, vários proprietários, vinhos de diferentes categorias - é assim a Borgonha.

Nos seus três bardos, Jean Luc Reillhart produz um Pinot Noir interessante (como podemos comprovar mais tarde numa prova na sua pequena adega), que vende quase só para o Japão. Leva o selo de Village, apesar de a vinha estar mesmo colada a vários grands crus. “Está a ver essa vinha mesmo aí em baixo [só há uma estrada a separá-la da sua]?”, apontou, “é La Tâche”. La Tachê, um dos oitos grands crus da comuna de Vosne-Romanée. Os outros são La Grande-Rue, La Romanée, la Romanée-Conti, Les Richebourgs, La Romanée-Saint Vivant, Échézeaux e Grands-Échézeaux. Estes dois últimos situam-se na aldeia de Flagey-Échézeaux, um pouco mais abaixo de Vosne-Romannée, mas integram esta comuna. Os restantes estão praticamente juntos: La Romanée confina com La Romanée-Conti, La Grand-Rue e Les Richebourg; La Romanée-Conti confina com Les Richebourgs, la Romanée-Saint-Vivant e La Grand-Rue ; e La Grand-Rue confina com La Tâche. Por sua vez, Les Richebourg tem como vizinho o também famosíssimo Cros Parantoux, um premier cru de menos de um hectare cuja reputação foi criada por Henri Jayer (já falecido), outro nome mítico da Borgonha, a partir de 1950, quando foi transformando pequenas parcelas antes usadas na produção de alcachofras num celeiro de vinhos fabulosos, alguns ainda mais caros do que os Romanée-Conti.

Ficávamos o dia todo a cirandar pelos premier e grands crus de Vosne-Romanée, mas uma razão maior “obrigou-nos” a regressar a Beaune: uma prova (a única marcada já durante a viagem) na adega de Phillippe Pacalet, um dos nomes mais sonantes da nova geração de produtores da Borgonha. Pacalet, que está representado em Portugal pela Niepoort Projectos, é a pessoa certa para um curso intensivo de Borgonha. Com vinhas próprias apenas em Beaujolais, faz vinhos em 30 grandes terroirs da Borgonha (a partir de uvas compradas e tratadas de forma orgânica ou biodinâmica), engarrafando tanto villages, como premiers crus e grands crus. De barrica em barrica, Pacalet levou-nos em digressão pelos Pinot Noir de Nuits-St. Georges (tintos muito angulosos e minerais), Gevrey-Chambertin (mais estruturados), Vosne-Romanée (muito perfumados e especiados), Chambole-Musigny (cheios de elegância), Clos Vougeot (mais ácidos e tânicos), Corton-Bressands (um tinto poderoso de uma vinha muito velha, um dos melhores da prova), Échézeaux (finesse e elegância) e Richote-Chambertin (um grand cru muito mineral e fresco), terminando em grande, com um Corton-Charlemagne de 2013, um Chardonnay extraordinário que vende na adega a 186 euros.

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