Fugas - Vinhos

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Borgonha, uma viagem pela Terra Prometida do Chardonnay e do Pinot Noir

O mítico Le Montrachet

E podíamos ficar por aqui, que já seria uma bela viagem. Mas no dia seguinte, mesmo debaixo de chuva, ainda haveríamos de ir à Côte de Beaune, o santuário dos brancos (embora 75% dos vinhos que ali se produzem sejam tintos, em vinhas de argila situadas nas zonas mais baixas) que começa na fantástica colina de Corton, partilhada pelas aldeias de Ladoix, Aloxe-Corton e Pernand-Vergelesses. O branco grand cru Corton-Charlemagne, um dos melhores do mundo, sai das encostas mais altas da colina de Corton, de solos de calcário erodido, ideal para o Chardonnay. Na zona inferior da mesma colina, onde os solos são mais ricos e profundos, com mais marga e argila e pedaços de calcário oxidado, tudo o que o Pinot Noir gosta, situa-se o único grand cru tinto da Côte de Beaune, o Corton.

A Côte de Beaune continua pela própria cidade de Beaune (em cujos arredores se produzem alguns bons brancos e tintos), seguindo depois por Pommard e Volnay (terras quase só de Pinot Noir e famosas pelos seus tintos delicados), até chegar a Mersault, berços de brancos magníficos, e logo a seguir a Puligny-Montrachet e Chassagne-Montrachet. Dois lugares construídos em torno de encantadoras igrejas e de vinhas profusamente retalhadas e muradas. Igrejas e vinhas, o céu e a terra ligados por um nome sagrado, o mesmo que une Puligny e Chassagne: Montrachet, quinta-essência da arquitectura dos terroirs da Borgonha (deve ler-se ´Mont-rachet`e não ´Mon-trachet`, porque é de um monte que se trata) e onde a casta Chardonnay atinge a sua expressão máxima.

Na encosta protegida deste pequeno monte com afloramentos calcários evidentes há cinco grands crus: Bâtard-Montrachet, Bienvenues-Bâtard-Montrachet, Chevalier-Montrachet, Criots-Bâtard-Montrachet e Le Montrachet. Ficam todos juntos. Uns separados apenas por um muro, outros pela estrada. Une-os a mesma casta, Chardonnay, o mesmo tipo de solo pobre, cheio de calcário partido, a mesma viticultura e, em alguns casos, até o mesmo proprietário. Mas cada grand cru tem a sua identidade própria e há um que, por pequenos detalhes na textura do solo, no tamanho dos calhaus de calcário, na exposição e na drenagem, se destaca dos outros: Le Montrachet, a mais cara e melhor vinha de Chardonnay do mundo. São apenas 7,92 hectares, divididos por 26 produtores e 18 proprietários (o Domaine de la Romanée-Conti, com 0,64 hectares, é um deles). Pequenas placas identificam cada um dos cinco grands crus e no Le Montrachet o que sobressai é o pórtico de calcário do Domaine Lefalive, um nome que deixa qualquer enófilo num estado de encantamento quase juvenil. Os seus brancos são os mais caros de todos.

O Domaine Leflaive tem parcelas em Chavalier-Montrachet (1,99 hectares), Bâtard-Montrachet (1,91 hectares), Bienvenues-Bâtard-Montrachet (1,15 hectares) e Le Montrachet (0,0821 hectares). Leu bem: 821 metros quadrados, os mais valiosos do planeta do vinho, granjeados de forma biodinâmica. Uma barrica apenas, não mais do que 300 garrafas nos melhores anos, pagas a milhares de euros cada. Em Le Montrachet, tudo é preciso. Cada metro vale uma fortuna. Um hectare de um premier cru de Chassagne-Montrachet custa entre quatro e cinco milhões de euros. Um hectare equivale a 24 ouvrées, a unidade de medida utilizada na Borgonha. No grand cru Le Montrachet, um ouvrée (428 metros quadrados) custa quatro milhões de euros! “E há mais compradores do que vendedores”, sublinhava Marc Colin, produtor reformado de Chassagne-Montrachet (hoje, são os filhos que estão à frente do domaine) com quem nos cruzámos na garrafeira municipal desta comuna. Com apenas 200 metros quadrados, é o proprietário mais pequeno de Le Montrachet.

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