Há, no lisboeta Bairro Alto, uma infinidade de restaurantes, muitos deles a armar ao típico, alguns que são casas históricas do fado, outros (muito poucos, quase só o Pap'Açorda) exemplos de modernidade, e há o Alfaia, que foge, na sua actual versão, a classificações. O Alfaia, há uns 20/30 anos bem medidos, era um restaurante de ambiente caloroso e comida popular, que muitas vezes abarrotava, onde, no serviço de mesas, brilhava a Isabel. Tratava-nos a todos por "meninos" e "meninas", tinha sempre um dito oportuno para desanuviar os ambientes mais pesados - discutia-se, então, muito, sobretudo política, e os discursos eram todos muito radicais -, metia a sua colherada nos amores e desamores dos clientes mais assíduos e exercia toda esta actividade diplomática sem nunca descurar o seu trabalho de apaziguadora de apetites. A Isabel, todos gostávamos dela, e o Alfaia, além de nos satisfazer o apetite, fornecia-nos um suplemento de alma, coisa só ao alcance dos lugares especiais.
Os tempos mudaram, a Isabel foi-se embora e, muitos de nós, com ela. Penso que a casa foi decaindo, chegou a fechar e reabriu. Nas poucas vezes que me passeio pelo Bairro Alto, nunca perdi o hábito de espreitar a lista do Alfaia. Apercebi-me que o restaurante tinha sido pintado de fresco, mas, durante algum tempo (dois/três anos), ao olhar para a lista, via-a demasiado ocupada por "picanhas" e outros bifes. Até que, em tempos mais próximos, vi, nas sugestões do dia, também nas entradas e mesmo no sector fixo da ementa, uma série de cozinhados das nossas ementas regionais, incluindo um sector de "carnes DOP" [denominação de origem protegida], que me fizeram voltar a franquear as portas do Alfaia. Vamos ao que interessa: ao que se pode hoje em dia comer e beber no Alfaia.
Comecemos pelos vinhos. Garanto-vos que é das cartas de vinhos portugueses mais completas dos restaurantes da nossa terra. Escolha criteriosa, actualizada, que inclui muitos dos vinhos mais conhecidos e famosos - tintos Vale Meão, Chryseia, Duas Quintas, Cistus, Dado, Redoma, Pêra Manca, Marquês de Borba, Barca Velha, Tapada de Coelheiros, Francisco Nunes Garcia, só para dar alguns exemplos - e uma oferta de generosos, seja os Moscatel de Setúbal, seja Madeira, seja Portos LBV, Vintages, "tawny" datados, que não se espera encontrar num restaurante com este perfil popular. Quando todos os vinhos levarem à frente da designação a data de colheita, ficará a carta do Alfaia perfeita. Além disso, há uma real preocupação de servir os vinhos segundo as melhores regras: há copos adequados, decantam-se se for caso disso, não se faz cara de caso quando se solicita que se baixe, num balde de gelo, a temperatura de um tinto ou de um Porto, se tal for aconselhável.
Quanto à comidinha, ao codore: temos bom pão de milho e de trigo, mais umas azeitonas pretas carnudas, uns jaquinzinhos fritos sem guarnição (5,45 euros), que foram substituídos por umas magníficas petingas, muito bem frigidas; temos umas amêijoas à Bulhão Pato (9,50 euros); ostras (meia dúzia, 6,95 euros); uma saladinha de polvo (5,90 euros); uma farinheira de porco preto grelhada (4,50 euros); um presunto DOP, de Barrancos (9,90 euros); uns enchidos da mesma proveniência, que são algumas das entradas que se recomendam. A sopa de espinafres e puré de grão (dois euros) é belíssima. Ainda nesta área podem pedir-se umas pataniscas sem guarnição, que, com arroz de feijão ou de tomate, são prato e bem bom, porque as ditas, estilo bolachas, são muito saborosas, e têm bacalhau desfiado, salsa e tudo. O entrecosto mirandês no churrasco (9,95 euros) pode ser pedido igualmente como entrada, só temperado com sal grosso, para se confirmar a excelência da carne transmontana certificada, também presente como "posta" (13,90 euros).
- Nome
- Alfaia
- Local
- Lisboa, Encarnação, Travessa da Queimada, 22
- Telefone
- 213461232
- Horarios
- Segunda a Sábado das 12:00 às 02:00
Domingo das 18:30 às 02:00
- Website
- http://www.restaurantealfaia.com
- Preço
- 20€
- Cozinha
- Portuguesa
- Espaço para fumadores
- Sim