Fugas - restaurantes e bares

Fernando Veludo/NFactos

Difícil é mesmo não gostar deste ladrão

Por José Augusto Moreira ,

Comidas de tacho, preparados do forno, peixes frescos e carnes suculentas e perfumadas. Quem chega sabe ao que vem e nem a face modesta consegue esconder a cozinha rica e de raiz popular do restaurante Zé da Serra.

Quem chega sabe exactamente ao que vem e o aspecto, modesto e quase escondido, está longe de anunciar ou sequer denunciar uma cozinha rica e opulenta, de cariz autêntico e raiz popular. A prova de que quem vê caras não vê corações, mais uma vez comprovada pelo facto de que há muito que este restaurante não é aquela espécie de tesouro escondido e só frequentado por íntimos e conhecedores. 

Bem pelo contrário! Já foi até palco muito visitado por gente famosa, sobretudo ligada ao futebol, mas também de outras áreas, como atestam as fotografias e recordações que hoje decoram uma das paredes. Uma espécie de galeria do tempo, onde glórias do pontapé na bola se cruzam com gente da vida pública, alguns artistas e até Fidel Castro. Sim, o velho símbolo de Cuba, que quando esteve no Porto fez questão de não voltar à ilha sem afinar o gosto nesta popular casa de comidas. 

É certo que o morro, a monumentalidade do convento e as fabulosas vistas sobre o Porto e a foz do Douro mais que justificam a passagem pelas ruas da Serra do Pilar, mas este não é definitivamente um restaurante com ambiente turístico, sendo claramente outra a motivação para os seus frequentadores: as comidas de tacho, os preparados do forno, peixes frescos e carnes suculentas e perfumadas. Sempre servidas em doses generosas e avidamente (alarvemente mesmo, em muitos casos) saboreadas pela clientela. 

Que ninguém vá à procura de ementa ou menu, que a oferta diária consta apenas de uma série de “especialidades do dia” numa lista manuscrita por José Inácio, o dinâmico e perspicaz “Zé da Serra”. É ele quem comanda a sala, em muitos casos ditando até aquilo que cada cliente deverá ter sobre a mesa. Abandonar-se aos seus critérios será sempre boa opção, mas com consequências em termos de fartura e densidade. E também na conta final, como por brincadeira gostam de lhe assinalar os clientes. Daí o epíteto de “Zé Ladrão”, pelo qual é também hoje conhecido o estabelecimento.

A mais recente experiência fez-se por estes dias em grupo de quatro. A predisposição era para apenas uma entrada leve e um pescado, para não interferir com a jornada de trabalho. Umas petingas fritas, camarões e cherne grelhados, mas que acabaram com uns acrescentos de vitela com massa e galo assado no forno. É assim este ladrão!

Imaculadas as sardinhinhas fritas, fresquíssimas e sem resquícios da fritura. Literalmente de palmo os camarões dos mares de Madagáscar e com um molho de alho a superar a tendência de secura que lhe é característica, enquanto a avantajada posta de cherne (equivalente a meio bacalhau de média dimensão) se decompunha em suculentas lascas. Coberta por salsa e cebola grosseiramente picadas e acompanhada com batata cozida, feijão verde e couve lombarda com a mais pura expressão dos sabores e aromas da natureza. Tudo simples e a dar apenas o melhor de cada produto.

A mesma saborosa simplicidade na massinha de vitela, com a carne maronesa a deixar-se desfiar e a calda do guisado envolvendo o esparguete. Imponente o aspecto da avantajada coxa e sobrecoxa do galo (mais parecia de cabrito), com batata assada e a trazer ainda à mesa o calor e aromas do forno. É claro que se prescindiu de qualquer das sobremesas gulosas, como as rabanadas ou o creme queimado que são famosas na casa, em favor de refrescantes fatias de melão.

Nome
Zé da Serra
Local
Vila Nova de Gaia, Canidelo, Rua Luís de Camões, 580
Telefone
223796785
Horarios
Todos os dias das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 22:30
Preço
30€
Cozinha
Trad. Portuguesa
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