O Cais do Sodré não é só bares de prostitutas, cantava Rodrigo no mais simbólico hino desta zona vermelha alfacinha. Pois não. E cada vez é menos, que o Cais do Sodré também é gente a entrar em cada vez mais vívidos e variados bares e discos que já pouco devem à história local, muito menos aos baptismos por geografia marinheira.
É o caso do novel Bar do Cais, que se quer tornar um oásis, tendo feito casa sua o antigo, revisto e aumentado, espaço da antiga disco Shangri-La. Abriu devagarinho há dois meses - "para nos irmos adaptando e percebendo o sítio e as pessoas" -, conta Carla Espiridião que, com o sócio Pedro Braga, repetem uma parceria de dois anos na gestão de outro bar, este até mais marítimo.
É que Pedro e Carla parecem gostar mesmo de estar ao pé da água, embora tenham trocado a salgada pela doce: antes, geriram um bar de praia na Ribeira d''Ilhas, Ericeira, ambiente surf e relax estival (todo o ano claro). Decididos a regressar a Lisboa, onde aliás cresceram, foram batendo as zonas nocturnas e anulando áreas. Diga-se, aliás, que do Bairro Alto desistiram logo, não é sito onde Carla gostasse de passar a noite: "Não senti segurança", "há demasiadas multidões pelas ruas", resume (em contraponto com o Cais, onde a presença de seguranças à noite dá mais garantias...). E com o mar a chamar foram descendo até perto do rio.
O momento de reinvenção e renovação do Cais do Sodré entusiasmou-os, encontraram o sítio certo (a lendária Shangri-La, que outrora chegou a ter noites culturais à séria, ainda para mais com uma loja ao lado também perfeita para abrir mais espaço), com boa vizinhança (está logo ali a poucos metros o MusicBox ou o Jamaica), que aliás já tinham frequentado noutros tempos - "ainda me lembro de, mais nova, acabar muitas noites pelo velho Jamaica", diz Carla.
Porém, é entrar no bar simplesmente dito do Cais, e logo se vê que não há registos do velho e acanhado Sodré. Até porque, se há coisa que não falta por aqui, é espaço. É um grande salão, aberto e arejado, dividido em duas áreas comuns: abre-se logo à nossa frente uma imensa pista livre de obstáculos e, à direita, o longo balcão de bar com uma região mais em jeito lounge, tudo abençoado pombalinamente por fortalecidos tectos em arco.
É tudo muito minimal, um espaço quase nu, com luzes suaves, em cinza cru e metálico, apontamentos de brancos e negros (e um toque rosa choque, particularmente na área das casas de banho das senhoras), sem pretensões decorativas e, definitivamente, sem excessos; apenas nos recantos uns confortáveis sofás e umas mesas baixas. Pelas paredes, alguns quadros, curiosamente de arte aborígene - mas é possível que as paredes venham a acolher mais obras de arte, até em exposições temporárias.
O espaço em si também deverá servir para cenário de diversos eventos, até pequenos concertos, visto estar já tecnologicamente artilhado para tal. Mas não nos ficamos por aqui: "é um bar em construção", adianta Carla. É que, em sobreloja, há mais espaço - que visitamos, mas não está aberto ao público -, a aguardar o desenvolvimento do projecto: uma bela área onde poderá nascer um lounge, conforto chill-out como não há outro por aqui, com janelões para a rua e estruturas em pedra. Por agora, a festa faz-se cá em baixo: é um sítio calmo e simpático para os primeiros copos da noite ou logo após o jantar - já que, como é tradição pelo Cais, só lá por passadas as duas da matina é que vem chegando a multidão. Uma tradição que Carla gostaria de ver contrariada, mas ainda não há volta a dar-lhe.
- Nome
- Bar do Cais
- Local
- Lisboa, Lisboa, R. Nova do Carvalho, 47
- Telefone
- 914997073
- Horarios
- Terça a Sábado das 22:00 às 04:00
- Website
- http://bardocais.com