Fugas - restaurantes e bares

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Tendência japonesa em alta no Porto

Por José Augusto Moreira ,

O Góshò segue o guião oriental de forma rigorosa, sem se limitar às especialidades japonesas. Há também pratos quentes e sugestões de fusão, capazes de convencer até os mais cépticos.

A moda não é assim tão recente, mas era quase como que um exclusivo das zonas mais cosmopolitas e requintadas do Porto. Os restaurantes de tendência Japonesa eram coisa para os ambientes de executivos da Avenida da Boavista ou as endinheiradas gentes da Foz, mas o boom turístico e a agitação cultural que alastram pela Baixa nos últimos tempos como que têm popularizado a tendência para a abertura de restaurantes de sushi. E não só na Baixa. Também na Ribeira é hoje tão fácil encontrar casas de rolinhos de sushi ou sashimi como as tripas à moda do Porto.

Altura, pois, para a Fugas revisitar o Góshò, um restaurante que como poucos segue o guião oriental de forma rigorosa e consequente. A começar pelo ambiente e decoração, que seguem os padrões recomendados pela entidade que supervisiona a instalação de restaurantes japoneses pelos quatro cantos do mundo. O mesmo se diga em relação à confecção e escolha de produtos, igualmente reconhecidos pelas entidades nipónicas que orientam o sector.

Além da cozinha, a própria localização logo induz a ideia de que entramos numa outra dimensão. Uma ampla cave no complexo associado ao Hotel Porto Palácio, à qual se acede por uma escada lateral. Apesar de descermos, o primeiro impacto é de um certo efeito de levitação aparentemente provocado pela luz vinda do chão. A sala, que parece ser oval e sem qualquer tipo de esquinas ou contornos a "cortar" o ambiente visual, está envolvida por uma cortina metálica, assim criando um corredor externo que dá acesso às estruturas de apoio.

Uma ampla clarabóia central põe-nos em comunicação com o mundo exterior, mas sem interferir com o contexto de sossego e equilíbrio dominante. Apenas as mesas estão bem iluminadas e os feixes e intensidade da luz, sempre ténue, acentuam a envolvente que nos leva a quase sussurrar para não interferir com a harmonia reinante. O mobiliário, igualmente desenhado pelo arquitecto Paulo Lobo, é também de linhas simples e depuradas.

Não se pense, no entanto, que as opções culinárias se restringem aos típicos peixes e mariscos crus e rolinhos de arroz envinagrado, aos quais a generalidade dos portugueses começa por torcer o nariz. O conceito desenhado pelo conhecido chef Paulo Morais, que continua como consultor do projecto, inclui uma grande variedade e de pratos quentes e algumas sugestões de fusão harmonizando produtos portugueses, japoneses ou de outras origens, enquadrados com as técnicas de corte, confecção e apresentação japonesas.

O efeito é por vezes quase arrebatador, como experimentamos com uns camarões fritos em polme de amêndoa (8€, duas unidades), com a espetada de vieiras grelhadas com ar de eucalipto (6€, duas unidades), uns filetinhos de barriga de atum (9,5€, cinco fatias) ou a carne barrosã DOP braseada (5€). A este propósito, convém esclarecer que o Góshò é o único restaurante do Porto com certificação para servir carne barrosã e também que o atum que aqui é servido provém em exclusivo de um fornecedor do Algarve que abastece alguns dos e melhores restaurantes de Tóquio.

Na memória ficaram-nos ainda alguns preparados de técnica apurada como o ceviche de peixes com caviar de malagueta (10€) e o tártaro de robalo e salmão com caviar de Porto (6€), num menu onde se incluem quatro sopas (3€/5,5€), cinco pratos de massas (8€/15€), três saladas (10€/20€), nove tempuras (6€/15€) e dezena e meia de variedades de rolos (2,5€/8,5€). Múltiplas são também as escolhas nos sets de sashimi (filetinhos de peixe cru) e de sushi (rolinhos de arroz com recheio de peixes ou mariscos crus).

Saborosa variedade de sobremesas igualmente da linha de fusão, tendo-nos regalado a abóbora em três texturas (6€), um mil folhas de abóbora e frutos secos que inclui bolo de polenta e gelado de chutney.

Criteriosa é a carta de vinhos, coisa que não se afigura nada fácil tendo em conta as características da cozinha japonesa. Destaque para os brancos, onde encontramos praticamente todos os melhores verdes, a par da generalidade das melhores opções nas restantes regiões produtoras. E também praticamente todos os melhores espumantes de produção nacional. As opções estendem-se aos saké, o vinho de arroz com que os japoneses costumam acompanhar a suas refeições, com variedade que parece incluir algumas das melhores produções.

Há também boa oferta de vinhos do Porto e de whiskies, entre os quais se inclui um surpreendente japonês (carote, mas muito bom) que pede meças aos melhores da Escócia. O Góshò é também um dos poucos restaurantes da Europa com cerveja japonesa à pressão.

Trata-se, em conclusão, de uma experiência que vivamente se recomenda e que quase diríamos obrigatória para os amantes da gastronomia. Desafio que é particularmente dirigido aos cépticos e relutantes, já que poucas vezes terão oportunidade confrontar e valorizar sabores, texturas, produtos e técnicas de confecção. Se a dificuldade é a escolha - e esse é, muitas vezes, o problema - a solução é delegar as opções no eficiente serviço de sala. No Porto ou em qualquer outra cidade do mundo, o Góshò é um dos mais consequentes espaços de tendência japonesa.


Mais Japão: Katsu Sushi Bar | Kyoto na Baixa

Nome
Góshò
Local
Porto, Lordelo do Ouro, Avenida da Boavista, 1227
Telefone
226086708
Horarios
Segunda a Quinta das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 23:00
Sexta das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 00:30
Website
http://www.gosho.pt
Preço
25€
Cozinha
Japonesa
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