Os pratos de resistência eleitos foram o "Napoleon" de bacalhau (15 euros), que entra, pela porta grande, no infindável rol de pratos portugueses do gadídeo. A múmia seca e salgada demolhada, muito desfiada, tem ar de ser refogada com cebola, pois fica com um sabor parecido ao do à Brás. Depois, surge muito bem casada com espinafres cozidos, tomate fresco sem peles nem grainhas, molho branco, conjunto encimado por umas gambas descascadas das melhores e gratinado no ponto. O prato voltou para a cozinha limpíssimo.
O mesmo sucedeu a um aparentemente mais banal "peixe galo grelhado com arroz de gambas" (19 euros). O alfaquique era dos grandes, daí a altura da posta, servida sem espinhas, chorumosa devido ao tempo justo do auto-de-fé, com um arroz, servido à parte em tachinho de cobre, apenas húmido e cujos grãos poderiam ter sido comidos um a um. Finalmente, o "lombelo grelhado com arroz de sarrabulho" (16,50 euros). Carne de porco rosada, bem temperada mas com sabor próprio e um opíparo arroz de sarrabulho, servido também em tachinho de cobre, com todos os seus pertences: carnes desfiadas de aves e reco, sangue do bicho e especiarias, excelente realização culinária.
Foi-se acompanhando a refeição com um branco encantador e cheio de carácter, As Sortes de 2006 (35 euros), um Godello de Valdeorras, Galiza, da autoria de Rafael Palácios, o mais novo de uma família de criadores de vitivinicultores da Rioja, cujo elemento mais destacado é Álvaro Palácios, um dos mais famosos autores de vinhos no Priorato, Catalunha. E um tinto, talvez a melhor relação qualidade/preço do Douro contemporâneo, o Prazo de Roriz (18,20 euros), não anotei se de 2004 ou 2005. Era muito bom, isso posso assegurar. A carta de vinhos está muito bem, quer quanto à quantidade, quer quanto à qualidade da selecção. Há também uma carta de águas, valha-nos Deus e os santos, muitas delas caras como tudo, não por elas, mas pelas embalagens.
As sobremesas doces, para que são sugeridos vinhos colheitas tardias, Moscatel do Douro, Porto Tawny, Madeira a champanhe rosé, foram as imperdíveis canilhas recheadas com leite creme (5 euros), o extraordinário, gordo e doce Pudim de Abade de Priscos (5 euros) e a refrescante delícia de baunilha com molho de champanhe e framboesas (6,50 euros).
O serviço, orientado pelo conhecido escanção Jorge Bita, está a cargo de uma equipa jovem, que revelou segurança, simpatia e saber, quando se tratou de descrever a composição dos pratos e servir os vinhos. Bita, que tem alguma tendência para as frases feitas e o discurso estereotipado, pareceu-me em boa forma. Mas deve vigiar a sua queda para o ditirambo. Cabe aos clientes a tarefa de classificar como "maravilhoso", "delicioso", "perfeito", se for caso disso, o restaurante, a comida e o serviço.
Testemunhei algumas manifestações de reserva sobre o Quarenta e 4. Não as confirmo. Também não faço comparações com o S. Gião. Mas penso que esta casa de comida matosinhense de Pedro Amaral Nunes já é, ao fim de um ano, um grande restaurante português.
- Nome
- Quarenta e 4
- Local
- Matosinhos, Matosinhos, Rua Roberto Ivens, 44
- Telefone
- 229363706
- Horarios
- Segunda a Sábado das 20:00 às 01:00
- Website
- http://www.quarentae4.com
- Preço
- 35€
- Cozinha
- Mediterrânica
- Espaço para fumadores
- Sim