Fugas - restaurantes e bares

Joana Freitas

Alfama toda parece uma casa Bela

Por Mara Gonçalves ,

As estantes transbordam de bibelôs e estátuas de Santo António. As paredes, de um vermelho forte, estão polvilhadas de porcelanas, naperons ou desenhos dos clientes. Há quem lhe chame bar, restaurante, café ou "tasca". O que é, com certeza, é uma casa portuguesa. Visita à Bela Vinhos e Petiscos, que seduz Alfama tanto pelo chouriço assado e vinho como pelo ambiente familiar ou os serões de fado e poesia.
Quem passa pela Rua dos Remédios, cada vez mais animada e diversificada, pode nem reparar nas diferenças desta tasca, aberta há pouco mais de um ano. A rua da alfacinha Alfama, como tantas outras do bairro, é um caminho íngreme, emoldurado por casas estreitas, detalhes anacrónicos e roupa a secar às janelas. Mas, no número 190 (na verdade, até nos números 186, 188, 190 e o 190a, assinalados no cimo de cada janela), uma antiga mercearia deu lugar a "um bar que serve petiscos" e conversas até às quatro da manhã.

Este Bela apropriou-se do nome da proprietária, diminutivo de Anabela, e nasceu como bar - sem o apelido de "tasca" por insistência da filha. Mas os clientes, habituados ao Bela de outras andanças, reclamavam pelos petiscos da dona da casa e, por isso, à colecção de vinhos vieram juntar-se as saladas de polvo, as pataniscas, os carapaus de escabeche, a chouriça e a morcela assada. A sedução e detalhe começam na ementa, dada a conhecer em garrafas vazias, que substituem também os típicos jarros de vinho, ou no placar de ardósia lá fora onde, em vez de preços ou horários, há todas as semanas uma nova frase inspiradora, vinda de livros ou sugestões de clientes. "O fraco nunca esquece que o apoio trazido pelo forte foi uma demonstração pública e aparatosa da sua fraqueza", lia-se esta semana, citação bebida nos "Ecos de Paris", de Eça de Queiroz.

Domingos de fado, terças de poesia

Depois de uma vida dedicada a casas de fados - começou com o Nono, no Bairro Alto, vinte anos depois abriu a Mesa de Frades já em Alfama e a poucos metros da tasca, tendo passado ainda pela Fábrica do Braço de Prata e pelas Guitarras de Lisboa -, Anabela Paiva, proprietária e alma deste Bela, ficou "farta de fados, fadistas e dessas coisas" e decidiu abrir um bar. "Era um desafio diferente, para ver se era capaz", explica. Por isso, no Bela, só há fados ao domingo, trazidos pela mão de Hélder Moutinho e música de Ricardo Parreira (guitarra portuguesa) e Marco Oliveira (guitarra e voz), músicos residentes.

Mas não é invulgar por aqui ouvir cantar Raquel Tavares, Carminho, José Manuel Barreto ou um outro fadista mais conhecido. São convidados espontâneos, que aparecem sem data marcada, e dão música a quem tiver a sorte de estar presente. A noite de fados tornou-se um clássico e percebe-se porquê quando, por volta das dez da noite, as luzes se apagam, os sussurros cessam e a música enche o bar (que parece demasiado pequeno para o poderio do canto). Um espaço tão tipicamente português, tão bairrista pede fado. E ele dá-se, em doses intimistas, inebriantes, entrecortadas a espaços pelos "xius", de quem toma por desrespeito qualquer som que não música ou canto, e pelas palmas no final de cada tema.

Mas há mais do que fado: a complementar a selecção cultural, há música ao vivo às quintas, com tradicional portuguesa e bossa nova; às terças-feiras, é a poesia que invade o Bela. "O espaço convidava a isso" e dois clientes sugeriram dedicar uma noite por semana à poesia. O momento é agora organizado por Luís Marques da Cruz que, em cada sessão, distribui alguns poemas pelos presentes para que estes os declamem. "Para o género de clientela que tenho é uma boa aposta, corre muito bem", resume Anabela.

Nome
Bela Vinhos e Petiscos
Local
Lisboa, Santo Estêvão, Rua dos Remédios, 190
Telefone
926077511
Horarios
Todos os dias das 19:00 às 04:00
Website
http://www.facebook.com/profile.php?id=100000716530758
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