Em noite de inauguração, dezenas de convidados e curiosos amontoavam-se à porta, bem ao jeito da animação que se quer dar à rua Nova do Carvalho e Cais do Sodré, agora em renovação contínua. Entre os sinais das conservas do Sol e Pesca e do coração da Pensão Amor, entre cabaré e "show" de Manuel João Vieira - o sr. Ena Pá 2000, como que passando um certo legado do encerrado Maxime -, abriram-se, na quinta-feira, as portas do Bar da Velha Senhora.
O nome Bar da Velha Senhora tem ficção vs. realidade por trás: a história de uma menina e moça que veio de Trás-os-Montes para Lisboa como criada e que, tornada "mulher voluptuosa e de curvas generosas", viria a ser a "Madame do Cais do Sodré". "O nome do bar é quase como uma ode à senhora que apelidámos de "Dona Imaculada'", conta Ricardo Sena Lopes. O publicitário é um dos quatro sócios que, há ano e meio, inauguraram o emblemático Clube Ferroviário, em Santa Apolónia. A ele, juntam-se o empresário Mikas - impulsionador de espaços marcantes como Atira-te ao Rio, Bar das Imagens, W.I.P. ou Bicaense -, Nuno O'Neill e João Nuno Pinto, produtor e realizador publicitários.
O bar, contam-nos, demorou três meses e dez dias a "cozinhar", entre a descoberta do conceito e o seu encaixe neste espaço com 80m2. "Gostamos de fazer coisas novas e por isso o nosso objectivo não foi abrir um bar apenas para vender copos. Quisemos criar um espaço envolto num conceito", resume.
No interior da casa, quase tudo obedece à temática do burlesco e ao imaginário do Cais do Sodré de inícios do século XX. O próprio edifício da Pensão Amor - projecto artístico e cultural preparado para mudar os dias e noites do Cais - onde se insere a Velha Senhora, testemunhou essa época em que os marinheiros atracavam no porto e ali passavam o tempo livre entre copos e mulheres. As histórias de prostitutas e marinheiros são indissociáveis do Sodré, célebre pelos bares de alterne, e não se esquecem tão rapidamente. Mas os tempos são outros, vive-se a revitalização e modernização da zona e os sócios da Velha Senhora estavam decididos a integrar este movimento.
"Ao passarem aqui, as pessoas descobriram algo, tal como nós. Agora, estamos a querer fazer parte desta nova versão do Cais do Sodré. Queremos fazer história, fazer a diferença e marcar as pessoas", diz Mikas.
Imaculada é a noite
Quando se entra, o tecto em tijoleira cria um rico contraste com um papel de parede cor-de-rosa, com arabescos dourados. "O Mikas foi a nossa Graça Viterbo", confessa Sena Lopes, entre gargalhadas. Há assentos almofadados em veludo carmesim e um balcão que se estende por meia dúzia de metros. Uma panóplia de candeeiros - e há exemplares de todas as cores e feitios, a electricidade ou a petróleo - salta à vista.
Ao fundo, o palco (com uma fotografia de uma jovem Imaculada) ostenta cortinas vermelhas, um piano vertical e está preparado para tudo. "As atracções roçam sempre o universo do burlesco, mas o bar não tem que ser completamente fechado nessa temática", explica Sena Lopes, que, logo a seguir, fala em cantautores, artistas de sapateado e até em intérpretes de Marlene Dietrich. Mas, no mesmo palco, pode ainda caber algum teatro, música francesa e, principalmente, quem quiser aparecer e tocar, esclarece O'Neill. Uma garantia: só não querem "ser uma discoteca". Para já, a animação é garantida de quinta a sábado; em breve, também haverá programação especial às terças e quartas.
O que não falta todos os dias é uma ementa que segue o mote da "alma" do bar. Entre petiscos e pratos "tipicamente portugueses", quase todos brincam de forma mais ou menos inocente com o burlesco. "Pipis" e "punhetas de bacalhau" são alguns dos emblemas (com preços entre 2,5€ e 7€). Nas bebidas, os vinhos são a aposta mais forte.
"Não concebemos o bar como um espaço formal para jantar à luz das velas, mas como um espaço informal para picar e jantar, para nos divertirmos e, no fundo, com carácter. Gostamos que a coisa seja ruidosa, agitada e dinâmica", resume Sena Lopes.
Sublinhe-se, porém, que a Velha Senhora não quer só conquistar a noite. "Vamos começar a abrir ao final da tarde, e, futuramente, queremos que o bar comece a funcionar à hora de almoço. Por isso, acredito que vamos ter vários momentos distintos ao longo do dia, acessíveis a diferentes tipos de pessoas." Das refeições mais rápidas para a hora de almoço aos espectáculos de final de noite, com copos e "coisas para picar" pelo meio, este é um espaço pensado para estar "aberto a toda a gente".
Festas
Na noite de inauguração, Lady Miosótis, Miss Lita Pineapple e Fraulein Margret foram as "meninas de cabaret" que movimentaram o palco ao compasso do piano e por entre lingerie e glitter. Seguiu-se o entertainer Manuel João Vieira, que levou parte da assistência para o palco.
Povo e Amor
Para dia 17 de Novembro, estão agendadas as inaugurações do bar Povo, mesmo ao lado da Velha Senhora, e da Pensão Amor, um espaço multiusos que ocupa o resto do edifício, recuperado no âmbito do projecto de requalificação do Cais do Sodré.
- Nome
- Bar da Velha Senhora
- Local
- Lisboa, São Paulo, Rua Nova do Carvalho, n.º 38
- Website
- http://www.facebook.com/bardavelhasenhora