A festa de Natal foi no quintal e teve caldo de peixe, muamba de galinha e calulu. E Afro Blu Dj''s. É assim a Casa Independente, o primeiro andar que abriu há dois meses no Largo do Intendente, em Lisboa. Pode haver um concerto, ou um jantar lomográfico, uma conferência sobre alterações climáticas ou a inauguração de uma exposição na casa-de-banho (neste momento está lá a de Tiago Borges). Aqui haverá sempre “arte e música como leite de tigre para a alma”.
A animação do espaço cabe à associação cultural Ironia Tropical - Patrícia Craveiro Lopes, Joana Nóbrega e Inês Valdez. Há já algum tempo que moram por aqui, perto do Intendente. Estiveram ligadas ao projecto das Largo Residências, que fica em frente, do outro lado da praça, para lá do jardim/instalação de Joana Vasconcelos (e perto de outra recente coqueluche do bairro, O das Joanas). Depois começaram a procurar um espaço próprio onde fazer aterrar a Ironia Tropical.
Já tinham organizado o lançamento do “Lisboa Mulata”, álbum dos Dead Combo, ali ao lado, no Sport Clube do Intendente, além de outras iniciativas. “A nossa casa já era esta zona”, diz Patrícia. Acontece que a associação da Antiga Comarca de Figueiró dos Vinhos estava para sair deste primeiro andar do número 45. “Viemos ver o espaço e foi automático”, conta Joana. Ficaram.
Mas depois foi preciso fazer as obras, e essas duraram de Maio até ao dia da inauguração, no final de Outubro. Recuperaram móveis, mudaram a cozinha de sítio, modificaram as casas-de-banho. Na sala cujas janelas dão para o Largo do Intendente mexeram só o suficiente para melhorar as condições, mas tentaram manter o espírito de salão de baile da Comarca de Figueiró dos Vinhos (recordada ainda num espelho na parede).
“Tivemos o cuidado de tornar o espaço mais contemporâneo, mas mantendo o que existia”, explica Joana. E Patrícia acrescenta: “A nossa ideia é sermos uma colectividade, mas contemporânea”. Herdaram o espírito da comarca que estava neste local desde os anos 40, mas sentem-se também inspiradas pelos moradores anteriores, do início do século XX. “Era um grupo para-maçónico e feminista chamado Associação para o Registo Civil”, conta Joana.
Agora, em 2012, é tempo da Ironia Tropical. E o que é isto do tigre? Sorriem. A pergunta deve surgir muitas vezes. É que na sala de baile, no palco, existe uma imagem enorme de um tigre, e na cafetaria, onde estamos a conversar à volta de um chá de gengibre, há também uma cabeça de tigre. A frase “leite de tigre para a alma” vem de um célebre texto de Tom Wolfe, “Radical Chic", onde o jornalista e escritor americano relata (com ironia) uma festa em casa do maestro Leonard Bernstein em que os convidados principais são membros dos Panteras Negras, para os quais a alta sociedade nova-iorquina está a angariar fundos.
Desde que a Casa Independente abriu que a cafetaria está a atrair mais gente do que as três sócias tinham imaginado - o que é bom porque, a nível financeiro, é essencialmente dela que depende o projecto. “Não é um restaurante, mas serve refeições”, explicam. Nos quadros na parede está uma lista de bebidas, sandes, saladas, torradas, bolos caseiros, refeições simples.
Na cozinha, dirigida por João Melo, a preocupação é sobretudo com a qualidade dos ingredientes. “A comida é quase toda caseira” e sempre que é preciso - daí a bocado Patrícia vai sair precisamente para comprar especiarias - abastecem-se nas mercearias indianas, nepalesas, paquistanesas, africanas ou chinesas da vizinhança. O vinho quente, por exemplo, tem um toque de picante.
Até agora, as primeiras semanas têm sido de muito trabalho e adaptação, mas as três amigas querem concentrar-se mais na programação, porque a Ironia Tropical é um espaço cultural. Inês Valdez está ligada, sobretudo, à programação musical. “Temos um posicionamento ecléctico, mas estamos mais centradas nos artistas emergentes do que nos estabelecidos”, explica. E a ideia não é apenas organizar concertos, mas acompanhar os artistas numa residência. Já em Janeiro, a Casa Independente vai receber Os They''re Heading West (Francisca Cortesão e João Correia) para uma residência com Samuel Úria.
Joana está mais concentrada nos projectos do serviço educativo, que lançará também uma primeira actividade a partir de Janeiro - ateliers com a escola primária do Castelo, em parceria com os Urban Nomads, de Luísa Alpalhão. Nos planos está também o lançamento do Projecto Proserpina, de jardinagem urbana, que acontecerá “fora de portas” em vários bairros das redondezas, onde se pretende criar diversos tipos de jardins urbanos.
Haverá ainda workshops de culinária, e conferências, que, para começar, serão em parceria com investigadores da Universidade de Lisboa para falar de questões ligadas ao ambiente e clima. “O objectivo é explorar o potencial da ciência como forma de conhecer a realidade”, diz Joana.
Para além de tudo isto, a Casa Independente vai continuar aberta todos os dias (de 3ª a sábado), com comida caseira, brunch, chá das 5, finger food (e jantares “à medida” e por encomenda). E, sempre que der, com uma festa no quintal - pode ser africana se os vizinhos africanos quiserem voltar para cozinhar, ou pode ser outra coisa qualquer, é só estar atento ao facebook da Casa Independente. E manter um espírito de saudável ironia tropical.
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Tasca Tropical: terça a sábado das 11h às 22h
Galeria dos Fundos | Salão & Bar: terça e quinta das 11h às 24h. Sexta a sábado das 11h às 2h
(A Casa Independente fecha entre 1 e 7 de Janeiro "para embelezamentos". Reabre a 8 de Janeiro)
- Nome
- Casa Independente
- Local
- Lisboa, Anjos, Largo Intendente, 45
- Telefone
- 218875143
- Website
- http://www.casaindependente.com
