Fugas - restaurantes e bares

  • José Sarmento Matos
  • José Sarmento Matos
  • José Sarmento Matos
  • José Sarmento Matos
  • José Sarmento Matos
  • José Sarmento Matos
  • José Sarmento Matos
  • José Sarmento Matos
  • José Sarmento Matos
  • José Sarmento Matos

Continuação: página 2 de 3

O que é que um primo jesuíta tem a ver com umas empadas de galinha divinas?

"Um dia cheguei ao banco e à hora do almoço e disse "meus senhores, amanhã já não venho trabalhar". Acharam que eu estava maluco, mas no dia seguinte peguei ao trabalho às 9h, só que em vez de ir para o banco fui para a mercearia, abri e porta e comecei a vender." Não tinha sido capaz de se desfazer da charcutaria e percebera que tinha que se dedicar a ela de alma e coração.

Um dia decidiu que ia vender comida na Charcutaria (falamos ainda da original, em Campo de Ourique, na antiga mercearia do pai), uma casa que, com grande tristeza, acaba de vender para se dedicar mais a esta onde estamos, na Rua do Alecrim. "Custou-me muito, já viu o que são 66 anos a entrar naquele sítio? Não choro com essas coisas, se não teria chorado. Era um sítio muito pequeno, com poucos lugares, e numa altura destas de crise isso é terrível, por isso fechei." Fora aí que, em 1990, no mês de Agosto, começara a vender comida - o primeiro prato foi bacalhau com coentros e, numa Lisboa em que tudo o resto fechava durante o mês de férias, o sucesso chegou rapidamente. "Começo a fazer cada vez mais pratos, sopas alentejanas, coisas que mais ninguém tinha em Lisboa, como a rexina, que é um prato da matança."

Interrompe as memórias um instante. "Quer provar a sopa de tomate? Vamos fazer uma coisa, prova agora, e volta cá quando for a época do tomate bom para ver a diferença", propõe. Não é a primeira vez que almoçamos na Charcutaria Lisboa, e já antes provámos uma outra entrada imperdível, as migas de batata e ovo, um carpaccio de bacalhau com romã, um foie-gras com redução de vinho do Porto Vintage, a sopa de espinafres com queijo de cabra e ovo escalfado e a perdiz estufada. Mas Manuel Martins gostaria que provássemos a lista toda, e fala entusiasticamente de cada prato.


Comida "do Além"

Percebe-se. É que, apesar de esta ser comida tradicional portuguesa, essencialmente alentejana, cada prato foi pensado e testado até estar o mais próximo daquilo que Manuel considerava a perfeição. Claro que tudo começa com a qualidade dos produtos. E isso... enfim, já não é o que era, lamenta o proprietário da Charcutaria. E, ainda por cima, depois de se divorciar deixou de poder trazer muitos dos produtos que antes trazia de Mourão.

"Matava muitos porcos alentejanos, transformava-os em paio, eram os melhores paios do mundo, não tenho dúvidas. Ainda não havia a ASAE, e eu matava gansos, tinha panelas para fazer arroz de ganso, tinha sempre tudo vendido, e não era barato. Foi aí que me tornei de facto cozinheiro. No Natal só vendia perus alimentados exclusivamente por mim e que eu embebedava com boa aguardente para os matar. Não se imagina a diferença que isso faz", conta.

E ainda nem falámos da doçaria. "Aprendi a fazer o fidalgo, o queijo do céu, o morgado, a encharcada, o rançoso, e vendia tudo em Campo de Ourique." Aqui, no restaurante da Rua do Alecrim, o grande sucesso é criação sua, uma (também imperdível) bolacha de noz com doce de ovos. Mas os outros doces regionais também aqui estão, e são uma tentação depois do carpaccio de carne barrosã e da garoupa à Bulhão Pato que acabámos de comer.

Nome
Charcutaria Lisboa
Local
Lisboa, São Paulo, Rua do Alecrim, 47
Telefone
213460672
Website
http://www.restaurantecharcutaria.com
Preço
30€
Cozinha
Alentejana
--%>