Se é um “champanhamante”, pode juntar os amigos e começar a pensar na bebida que vai escolher para brindar ao seu novo poiso lisboeta. Ao Cais do Sodré, chegou a Champanharia do Cais. Criada também a pensar nos leigos na matéria e em todos os que sempre acharam que este universo se restringia a eleitos e ocasiões especiais.
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Durante muito tempo - 13 anos - foi “um sonho hipotecado” de Nuno Correia Pereira e Pedro Collaço, amigos de infância. O primeiro trabalha em marketing; o segundo, na banca. Ambos são amantes de vinho e espumante. É Nuno, 32 anos, quem nos conduz pelos caminhos que levaram à concretização do sonho. “Surgiu na altura menos provável”, reconhece. Num momento “caído do céu”, tudo se conjugou. Souberam que já só havia um espaço livre na “rua cor-de-rosa”, a localização ideal. Arregaçaram as mangas. Juntaram-se a dois amigos entendidos em reabilitação urbana, Francisco Esteves e António Mendonça. Dois anos depois, no número 39 da artéria central da noite do Cais do Sodré, ganhou forma o projecto das suas vidas.
Inspirados pelo conceito das cavas catalãs e pelo modo como já se bebia champanhe no Porto, pensaram numa experiência à medida da capital e, em particular, desta zona. Eis o twist que define este lugar: a fusão de um produto associado ao glamour de luva branca e veludo com a vontade de o democratizar e de o adaptar ao carácter do Cais do Sodré, cunhado por séculos de encontro entre os alfacinhas e os que chegam de outros lugares. Nuno sente que uns e outros procuram cada vez mais o que é genuíno e português, e atribui a essas qualidades o sucesso que a Champanharia do Cais alcançou tão rapidamente. A produção nacional é uma aposta clara da ementa, que destaca 15 espumantes portugueses (da Bairrada ao Dão, passando pelo Alentejo e Setúbal). No final, lá estão as referências aos champanhes das casas francesas Tattinger e Ruinart.
O conhecedor não sai defraudado. O novato também não. O staff , por seu lado, está preparado para explicar, descrever, sugerir. A lista contempla ainda vinhos, sangrias (uma delas personalizável) e cocktails alternativos que quebram com frescura o paladar rotineiro e funcionam como uma porta de entrada para o universo do espumante. Tudo com ingredientes frescos, marcas escolhidas a dedo e preço à medida das bolsas que por ali passam: a partir de 2€, bebe-se um espumante a copo (ou melhor, taça - não há cá flûtes); com 10€ já se divide uma garrafa.
O duplo ajuste - “ao Cais e à conjuntura” - passa também pelos petiscos. Que tal um croquete de favas com chouriço ou de farinheira com grelos? Ou uma tosta de queijo de cabra, compota de figo e vinagre balsâmico? Numa mesa, pica-se qualquer coisa para acompanhar um vinho. Noutra, um pequeno grupo partilha uma garrafa. Ao balcão, há quem comece pela cerveja e quem deguste já “aquele” espumante. “Quem bem come e bebe / bem faz o que deve!”, lê-se na ardósia gigante da parede oposta ao balcão, onde a giz estão desenhados dois amigos a brindar, divertidos.
Partilhar é a palavra de ordem. Os bancos corridos pretendem estimular isso mesmo. Os originais frapés de chão, em madeira, transportam-se facilmente pela sala ou para a esplanada. A mobília, simples e em linhas direitas, ainda cheira a nova. “Precisa de ser arranhada”, desafia Nuno.
Por ser modular, permite reorganizar o espaço rapidamente para acolher a animação gratuita que vai sendo alinhada: quartas-feiras com caricaturistas, terças com conversas e quintas com stand-up. Actividades alegres e informais conjugam-se, assim, com bebidas também elas alegres e servidas informalmente. Não, este lugar não inspira cerimónias. Nem os brindes precisam de pretextos. A quem precisar de um, a Champanharia do Cais responde com três: partilha, convívio e boémia.
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Sonho antigo, nova tendência
Depois de anos como projecto apenas sonhado, a Champanharia do Cais acabou por abrir num momento económico improvável. Porém, o sucesso foi quase imediato. A localização, a originalidade e a oferta-nicho ajudam a explicar o êxito. Mas olhemos para lá da porta. Só em Lisboa, contamos três espaços do género: a do Cais, a Real (Santoso-Velho) e a do Largo (Mártires da Pátria). Todas abriram portas nos últimos meses, todas fazem do espumante a estrela do cardápio e todas apostam na desmistificação da forma de consumir a bebida. Uma nova tendência para a noite lisboeta?
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Preços: Espumantes de 2€ a 4€ (copo) e de 10€ a 49€ (garrafa); champanhes de 38€ a 68€ (meia garrafa) e de 58€ a 115€ (garrafa); sangria a partir de 14,50€; vinhos de 2,50€ a 3,50€ (copo) e de 12€ a 24€ (garrafa); café desde 1€; água a 1,50€; refrigerantes a 2€; cerveja desde 1,50€; licores desde 2€; cocktails desde 7€; whisky e brancas desde 6€; croquetes desde 1,20€; tostas a 5€.