Fugas - restaurantes e bares

  • Rui Gaudêncio
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Quando os clientes fazem renascer um restaurante

Por Alexandra Prado Coelho ,

Gostavam tanto do local onde todos os dias se encontravam para almoçar que não podiam deixá-lo fechar as portas. Cinco amigos juntaram-se e o Paço da Rainha ganhou nova vida.

Almoçamos aqui todos os dias há trinta anos, se isto fecha para onde vamos? Foi isso, mais ou menos, que pensaram os amigos que se reuniam habitualmente no restaurante Paço da Rainha, em frente ao Palácio da Bemposta, em Lisboa, quando o gerente do restaurante, e também ele já um amigo, Guilherme Farinha, lhes disse que estava a pensar fechar as portas.

Não podia ser, disseram. O Paço da Rainha, com todos os seus altos e baixos, tinha-se tornado uma segunda casa, era um local de encontro e de tertúlia, recebia os funcionários dos hospitais da Colina de Santana e muitos editores que tinham os escritórios ali perto e passavam horas a conversar sentados às mesas depois de terminado o almoço.

Mas as coisas andavam difíceis e parecia não haver alternativa que não fosse fechar. Foi então que cinco amigos se mobilizaram e, juntando esforços com Guilherme Farinha, actual gerente da casa, decidiram dar uma nova vida ao Paço da Rainha. Preferem não ser identificados, porque, dizem, esta história não é sobre eles, é sobre uma casa “que se tornou querida de muita gente” e que só precisava de uma ajuda para renascer.

Do “velho” Paço da Rainha ficou o nome, “a alma das paredes”, o painel fotográfico a preto e branco que fica à direita de quem entra — e uma ligação forte à rainha D. Catarina de Bragança, que viveu no palácio em frente, onde hoje está instalada a Academia Militar. Tudo o resto mudou. 

A nova decoração, feita por Frederico Oliveira, da República das Flores, cria um ambiente que faz pensar em confortáveis chás das cinco em salas acolhedoras (e, não por acaso, há aqui um chá das cinco aos sábados à tarde). Nas paredes, um trabalho do artista plástico João Figueiredo desdobra a imagem de Catarina de Bragança em detalhes, uma mão, um gesto, uma parte do rosto. 

Enquanto um dos sócios vai contando as peripécias que levaram a esta nova vida do Paço da Rainha, explicando que se pretendia uma cozinha diferente mas sempre claramente portuguesa, ficamos entregues às mãos do chef António Latas e, dentro de pouco tempo, chega à mesa a primeira entrada. 

Numa era de pratos bonitos, é justo que se diga que este, simplicíssimo, faz parar a conversa e cria um pequeno momento de encantamento. É um torricado de cavala, que tem como base uma focaccia (receita do chef mas feita numa padaria vizinha) e vem decorado com pequenas begónias comestíveis cor-de-rosa vivo. Quando o provamos, revela o mesmo delicado equilíbrio de sabores que o seu aspecto deixava adivinhar. Tem ao mesmo tempo uma honestidade de sabor e uma elegância sem pretensiosismo. 

Mais tarde procuramos a página do chef na Internet e deparamos com uma citação atribuída a Winston Churchill a abrir: “A sorte não existe, aquilo a que chamamos sorte é o cuidado com os pormenores”. E essa atenção aos detalhes estará em todos os pratos que se seguem, do tártaro de atum dos Açores com manga e sal de wasabi às lascas de pato com espuma de batata, batata-doce e creme de laranja de Setúbal, passando pela rillete de coelho do campo (receita que aprendeu com o chef Joaquim Figueiredo, faz questão de dizer António Latas) com vinagrete, groselhas e amêndoas; o folhado de queijo da Azóia com uma leve geleia de marmelo caseira ou o tamboril com crosta de azeitona e anchova da Cantábria acompanhado por um arroz caldoso de espinafres. 

Nome
Paço da Rainha
Local
Lisboa, Pena, Paço da Rainha, 66
Telefone
218 852 752
Horarios
Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 23:00
e Domingo das 12:30 às 15:00
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