Fugas - restaurantes e bares

  • Nelson Garrido
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Corre o fado para o Douro

Aqui não exploram, diz Alfredo Lúcio (o Alfredo dos CTT), com a certeza de quem frequenta este e outros sítios, inclusive profissionais, todos os dias ("Não posso dormir sem fado"). A cerveja é a um euro, exemplifica, e com umas papas de serrabulho fica por menos de três euros.

Cá fora, poucos são os que não têm na mão um copo (tinto ou branco); lá dentro, as mesas cobertas por toalhas de plástico enchem-se de garrafas, o burburinho é por vezes barulho e os petiscos já começaram a sair. Jorge Azevedo ainda não entrou. Veio pela terceira vez consecutiva, é fã de fado e desta feita trouxe duas amigas porque quis partilhar "este ambiente". "Se outras pessoas da nossa idade soubessem disto, vinham, porque gostamos de comer, beber e isto é top." . Aqui, "bebem-se uns copos e comem-se umas iscas, para dar força à garganta", brinca José Carlos, outro vencedor da Grande Noite do Fado .

"Mas isto não são só copos", avisa Adão Pereira, guitarrista com 60 anos deste ofício (e de outros) e algumas dezenas nestas tarde amadoras. E também "não é o mesmo que numa casa de fado", dirá o companheiro de lides, o viola Paulo Faria Carvalho, músico a tempo inteiro (tocou no musical "Amália" e participa no projecto "Sombras", de Ricardo Pais). Afinal, todos podem cantar e "a maior parte não sabe". No entanto, "o fado amador é uma escola, dá conhecimento e endurance ". À noite toca numa casa profissional, as tardes são "para manutenção".

Há mais de 30 anos que se se fazem estas tardes de fado vadio aqui, à terça-feira. Entre as 16h e as 19h, uma média de 15 "cantadores" despejam o fado trazem com eles: duas músicas cada, intervalos regulares e Alice Costa nas apresentações. E quando o ambiente - neste espaço pequeno, paredes de pedra, traves de madeira com cabaças penduradas, a "D. Amália" pintada jovem entre xaile negro e branco - se torna mais agitado, Alice tenta impor alguma ordem: "Meus senhores...".

Já está Capélio da Ribeira a cantar, "Ribeira Querida"; lá fora, tinha actuado "a capella: "Amo a Ribeira, amo o cais, o sítio onde nasci". E onde continua, no café que tem o seu nome e onde canta a pedido ou na "jukebox" à porta; também canta nos CD gravados, no Youtube... Capélio, que até tem uma página de fãs no Facebook criada por espanhóis, sempre teve a "paixão" do fado, mas foi quando a mulher morreu, há 21 anos, que se "atirou" no "ambiente familiar do fado". Não se importa que lhe chamem "o Zé Cabra da Ribeira", nem se incomoda com as "bocas" (hoje, discretas, confidencia Filipe Oliveira, assíduo há 10 anos): "Está a cantar bem hoje"; "Que nem o Frank Sinatra".

É "uma família", portanto, que hoje se reúne na "Dona Piedade", o nome da proprietária, que encerra a tarde de fados. Antes, também a cozinheira, D. Aninhas, pequenina, engelhada, faz o jeito à voz, sempre de olhos fechados. "Ah... Eu enganei-me". "Vá lá, vá lá", incentivam. "Agora vem ‘Zanguei-me com o Meu Amor", murmuram. Aí está. No final, a maior ovação da tarde.

Nada que surpreenda Ulisses Fonseca e Ricardo Alves, 29 e 32 anos, DJ pela noite, frequentadores há três da "Piedade", pelo "ambiente familiar, personalizado". Gostam da emoção que corre à solta. "Só ouço fado aqui. Tem outro carisma. O "outro" é para turistas", considera Ulisses. O outro "é" fado, diz Alice. "Lembro-me de ir ao fado pequenina. É silencioso, bons fadistas, aquelas coisas todas". "Isto é amador. Às vezes só falta...".

Nome
Adega Rio Douro
Local
Porto, Porto, R. do Ouro, 223
Telefone
226170206
Horarios
Segunda a Sábado das 12:30 às 23:30
Cozinha
Portuguesa
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