Fugas - restaurantes e bares

Miguel Manso

A cozinha histórica e perfumada de Augusto Lima

Por José Augusto Moreira ,

Sabores genuínos e a lembrar as raízes mouriscas e arabizadas do Algarve, com grande apuro, criatividade e competência. No Xarme, em Lagos, o nosso crítico provou o cordeiro de "churra" com xerém e diz que é um prato de antologia.
Antes de tudo o mais, haverá que dizer que Augusto Lima é um artista. Sim, um artista no mais puro sentido do termo, daqueles cozinheiros para quem o gozo do acto criativo e o gosto pelos produtos naturais e tradicionais se sobrepõem a tudo o resto. E isso nota-se não só nos seus cozinhados mas também na forma como os descreve e apresenta.

Por isso, diz que "cozinhar é uma arte" logo na apresentação do seu restaurante, que descreve como um lugar "onde o Mediterrâneo, a tradição e os vinhos se cruzam numa cozinha de autor, com destaque para os produtos autóctones do Algarve". Cozinha de autor, sem sombra de dúvida, mas que remete para um imaginário mais histórico que o actual conceito mediterrânico, o Algarve de tradição mourisca e arabizada. Os paladares agridoces, ervas frescas, citrinos, especiarias e frutos secos quase sempre presentes assim o atestam.

Instalado num espaço que já foi galeria de arte (pois claro!), o Xarme está mesmo no coração da área pedonal de Lagos. Edifício completamente remodelado e com os três pisos totalmente ocupados pelo negócio. Sala principal ao nível da entrada, com capacidade para um máximo de três dezenas de comensais. Mais mesas no andar superior, um espaço também dedicado a sessões de apresentação e divulgação culinária. A cave funciona como enoteca e espaço de bar e degustação. O ambiente é moderno, elegante e a atirar para o intimista, predominando o mobiliário de tons escuros e púrpura e luz indirecta. Nas paredes, de generoso pé-direito, há quadros de um lado e, do outro, pequenas galerias/expositores com vinhos.

A carta propõe sete entradas, com preços que vão dos cinco aos nove euros. Além da Merendinha, uma saborosa marinada agridoce com sumo e raspas de laranja, tomate, pão, azeite e ervas aromáticas, provou-se o Al Zaite (sumo de azeitona em árabe), um soufflé de batata que leva ervas frescas e cominhos e acompanha com um gelado de azeite, que o cozinheiro faz questão de mencionar tratar-se de um monovarietal galego. Seguiu-se a Zawaia (outro nome árabe, que designa Lagoa), um afinadíssimo carpaccio com laranja, figo seco, amêndoa torrada, laranja, toranja, azeite, hortelã e canela, rematando o capítulo das entradas com o Presunto do Mar, uma "muxama" (atum seco e salgado) com crocante de batata-doce, compota de pêssego e um molho de tomilho e limão. Tudo muito bem combinado e apresentado, a despertar todos os sentidos.

Nos peixes, com preços dos 14 aos 17 euros, há uma Sinfonia do Mar, com peixe do dia, mexilhão, batata e molho de cogumelos selvagens; a Maresia, à base de polvo, batata-doce e legumes; Sabores Mediterrânicos, com atum fresco (do Algarve), legumes, ervas e um vinagre de maçã; as Memórias Africanas, um caril de camarão que tem a companhia de um arroz de especiarias e salada de fruta. Provou-se apenas O Nosso Prato Nacional (17 euros), um bacalhau no forno com uma crosta de figos e acompanhada com rodelas de batata corada com orégãos, juliana de legumes, tudo composto com uma elegante tostinha de pão e cheiroso raminho de alfazema. Muito bem cozinhado, aromas, sabores, sucos e ainda um belo efeito de empratamento.

Nome
Restaurante Xarme
Local
Lagos, São Sebastião, Rua 25 de Abril, 54, Lagos
Telefone
282098014
Horarios
Todos os dias das 12:30 às 15:00 e das 19:00 às 22:30
Website
http://www.xarmecozinhamed.blogspot.com
Cozinha
Autor
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