Fugas - restaurantes e bares

Nelson Garrido

No Bom Jesus também há alimento para o corpo

Por José Augusto Moreira ,

Lugar privilegiado para o alento espiritual, no Bom Jesus tambem se come e bem, caso de um frango à indiana que deixou convencido o nosso crítico. Uma cozinha abrangente e com direito a vistas deslumbrantes.

Seja pelo pitoresco elevador ou vencendo as curvas da íngreme subida, chegar ao alto do Bom Jesus é sempre uma sensação única e reconfortante. À riqueza natural e arquitectónica junta-se uma vista deslumbrante. Um suplemento de alma para qualquer comum mortal, que, neste caso, abria também o apetite, já que a peregrinação tinha objectivos gastronómicos.

E, já que falamos de vistas, não há melhor que o restaurante do Hotel do Elevador. Uma espécie de varandim suspenso sobre os jardins, donde se pode apreciar toda a cidade de Braga, as montanhas envolventes e ainda estender o olhar até Barcelos e à costa atlântica, se a vista alcançar e o tempo limpo o permitir.

Para o que aqui nos traz, registe-se que o restaurante se estende pelas fachadas poente e sul do piso de entrada da unidade hoteleira. Mesas elegantemente aparelhadas, com toalhas e guardanapos de algodão branco, talheres de linhas modernas, mobiliário e cadeiras a condizer. Só pelo enquadramento, a deslocação já não seria tempo perdido.

O menu consta de sete entradas, três sopas, seis propostas de peixes e mariscos e outras tantas no capítulo cárnico. Há ainda as chamadas sugestões do chefe, duas propostas de massas e outras tantas de ovos e um menu para crianças.

Como entrantes, pediram-se "gambas salteadas com paladar de alho", "colheita de míscaro silvestres com paladares alentejanos", "esfiapado de bacalhau com pimentos e pintas de azeitona", e "aconchego de acepipes com paisagem única", com preços entre os 7,5 e os 11 euros.

Nota mais alta para os fungos silvestres, denotando bom tratamento na chapa na companhia de ervas de origem alentejana. O mesmo não se pode já dizer da salada de bacalhau, que denotava excesso de tempo na água, assim como o refogado com as gambas, a denunciar igualmente a sua confecção antecipada.

Quanto aos acepipes, o mínimo que se pode dizer é que o aconchego é mesmo para levar a sério. Vêm até à mesa num carrinho e com uma tal variedade que a refeição até podia ficar-se já por aqui. Provámos apenas salada de bacalhau (viva, fresca e a saber à peça, ao contrário da versão esfiapada), bolinhos do mesmo e croquetes de vitela, além de uma saladinha de batata e cenoura com maionese. Tudo em muito bom nível.

Correcta também a "ternura de pescada dourada com risotto de tomate" (14,50 euros). Filetes do lombo no ponto correcto de fritura e com um estimulante toque de frescura de limão. Mesmo a calhar para o alvarinho Solar de Serrade 2009 (17 euros), que, a par dos aromas da casta, deu também mostra de um acentuado toque vegetal no palato. Já o risotto, ligaria certamente melhor se em vez da polpa de tomate se tivesse recorrido ao tomate fresco, bem mais saboroso.

Pecado seria que não se tivesse provado também o "tradicional bacalhau de cebolada à bracarense" (14,50 euros). Posta alta e firme, como mandam as boas regras, bem frita e a deixar-se desmontar em saborosas lascas. Cebolada com um toque de vinagre (talvez excessivo), também tiras de tomate natural (que faltou ao risotto) a compor os sabores. Muito bem, disseram os comparsas do repasto, numa altura em que se convocou o tinto Quinta dos Aciprestes 2007 (15 euros), um duriense de muito boa colheita e que é sempre um valor seguro.

Aprovação generalizada também para o "supremo de frango à indiana", com molho de caril, arroz basmati e grelos salteados. Saboroso frango do campo que denotava ter sido corado na frigideira, caril suave e grelos macios a proporcionar agradável e harmoniosa paleta de aromas e sabores. E a mostrar também uma cozinha segura naquilo que vai para além da dimensão regional do menu.

Finalizou-se com "peito de pato aromatizado com mostarda e mel" (16 euros). Sabores igualmente bem equilibrados e proporcionados e sem deixar que qualquer deles se sobreponha.

Para sobremesa, "escolha de doces ou fruta" (4 euros), um bufett que tem o efeito inconveniente de nos fazer sair da mesa e interromper a refeição em pleno desfrute. Mas compensa, já que o leque de bolos é verdadeiramente tentador. Do gelatinoso abade de Priscos ao doce da avó, passando pelo toucinho do céu, tiramissu, bavaroise e quejandos. Tudo de confecção caseira.

Em jeito de conclusão, está longe de ser só pela vista que se justifica a visita a este restaurante. Cozinha segura e equilibrada, que estende a oferta para lá do receituário regional e com menu abrangente. O mesmo já não se pode dizer da oferta de vinhos, curta e um tanto antiquada, o que mal se compreende face ao nível da oferta culinária e a contrastar até com o serviço de copos. Correcto e adequado, como nem sempre se vê.

Nome
Restaurante Hotel Elevador
Local
Braga, Tenões, Parque do Bom Jesus do Monte
Telefone
253603400
Horarios
Todos os dias das 12:30 às 14:30 e das 19:30 às 21:30
Website
http://www.hoteisbomjesus.pt
Preço
20€
Cozinha
Minhota
Espaço para fumadores
Sim
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