A história é comum à grande parte dos restaurantes do Entre-Douro-e-Minho, tal como acontece, de resto, um pouco por todo o país. Tendo começado como casa de vinhos e petiscos, a Julinha cedo ganhou fama pelas rotundas postas de bacalhau fritas com cebola que atraíam a clientela. Rapidamente convertida em restaurante, a casa constituiu-se como uma espécie de destino de romagem ao bacalhau, sobretudo nos conturbados anos do pós-25 de Abril, quando a escassez o converteu em produto de luxo.
Vai daí, a casa como que se aburguesou e passou a ser essencialmente frequentada por empresários e famílias de boa solvência, estatuto que, mais coisa menos coisa, se mantém nos dias de hoje.
O espaço é amplo e confortável, mesas devidamente aparelhadas e com amplitude, para que o repasto não corra o risco de intercomunicar com a vizinhança e vice-versa. Há também uma ampla sala de recepção e bar à entrada e abundam os quadros com fotografias que ilustram a história da casa, os seus protagonistas e as comezainas de outros tempos.
A sala, de tectos altos e madeira a forrar os telhados, ao estilo de pavilhão rural, recebe luz natural da parede de fundo envidraçada e pode acolher à vontade mais de uma centena de comensais. A amplitude é quebrada por umas estantes que dividem o salão em dois espaços distintos, e cujo recheio acaba por constituir uma espécie de demonstração daquilo que dali se pode esperar.
Vêem-se garrafas com vinhos de antanho, a mostrar tradições de consumo e outros tempos, mas há também uma colecção de águas gourmet das mais diversas origens, a mostrar que os conceitos de requinte e modernidade também por ali moram.
Ora, é precisamente dessa conjugação que se alimenta a cozinha da casa. Mantém os pratos e cozinhados de sempre - e que são a sua essência - mas confeccionados segundo os cânones da cozinha moderna, mas também produtos e preparados de cunho mais vanguardista. Mas o bacalhau continua a ser rei.
Detenhamo-nos, então, sobre o Bacalhau à Julinha, cuja meia dose (18 euros) é de molde a dar que fazer a dois ou três pretendentes. A meia posta, da altura de uma mão e servida em travessa, chega à mesa numa cama de batatinha frita às rodelas e escondida por ampla cobertura de cebola translúcida.
Para quem gosta de bacalhau e tenha a ideia de que já provou tudo, desengane-se... porque falta a Julinha. Desde logo pelos aromas a "carne de mar" que se soltam das entranhas da posta. Lascas consistentes e saborosas, com as partes mais baixas e agarradas às espinhas a desafiarem-nos a comer à mão para que nada se perca dos gulosos sucos e gelatinas. Tal como os grandes mariscos.
É claro que tal só é possível com uma fritura irrepreensível, fruto da técnica e conhecimento adequado. A posta frita envolvida em azeite, a baixa temperatura e apenas o tempo suficiente para a cozedura interna e sem deixar a mais leve sensação (ou aroma) do queimado da fritura em excesso. O mesmo em relação à cebola.
Parece fácil, mas exige técnica e conhecimento, que é o que demonstra Fernando Sá, o responsável pela cozinha da casa e descendente dos fundadores. O resto está no produto, neste caso, o bacalhau Jumbo oriundo da Ilhas Faroe, um bicho raro, que atinge os 10/15 quilos e que "é mais carne que peixe", como diz o cozinheiro.
- Nome
- Restaurante Julinha
- Local
- Trofa, Santiago (Bougado), Rua Dr. Avelino Padrão, 1771
- Telefone
- 252419486
- Horarios
- Segunda das 12:30 às 15:00
Terça a Domingo das 12:30 às 15:00 e das 19:00 às 22:00
- Website
- https://www.facebook.com/restaurantejulinha
- Cozinha
- Trad. Portuguesa