Quanto à garrafeira, tendo sempre em conta a classificação do restaurante, faltam alguns dos bons vinhos portugueses que, nos últimos anos, têm surgido no mercado. Por exemplo, e falando apenas de brancos, a lista abre com o Vinhas Velhas de Luis Pato. Está bem. Não inclui, no entanto, o Vinha Formal, do mesmo produtor, um dos mais originais brancos portugueses. Como não há o Redoma reserva da Niepoort, um grande vinho branco. Globalmente, a carta de vinhos tem uma orientação conservadora. O serviço de copos do Gambrinus não tem nada de luxuoso. É vulgaríssimo.
Os talheres, Cristofl e, sobretudo os garfos, há muito que ultrapassaram o período de validade. A não ser que se tenha uma perspectiva museológica da casa. De qualidade adequada à classificação do Gambrinus são os mariscos, sejam os lagostins (100 euros o quilo), sejam as ostras (24 euros a dúzia) ou os percebes (um montinho 18 euros, mas excelentes de sabor, frescura e tempo de cozedura, sendo servidos mornos, como mandam as melhores regras), sejam os outros (lagostas e diferentes tipos de camarões). Não é de luxo o "couvert" pelo qual, incompreensivelmente, cobram 2,5 euros: um pequeno papo-seco, torradas deste pão quando endurece, dois caracolinhos de manteiga.
A única coisa que merece atenção daquilo que nos chega à mesa sem ser pedido são as torradas de pão de forma de centeio com manteiga. Mas fazer-se pagar por isto num restaurante de luxo revela falta de classe.
Passando à cozinha, três refeições feitas recentemente no Gambrinus deixaram-me decepcionado, exceptuandoa marmita de eiró à portuguesa (24 euros). As enguias servidas às toras eram da grossura adequada; o ponto de cozedura perfeito (e a enguia, caso se não tenha cuidado, fica espapaçada, e é um desprazer); o molho caldoso, leve, bem temperado, apurado, e com ingredientes adequados, muito bom. Muito bem ainda as torradas de pão de trigo duro, vulgares as batatas cozidas. Saborosa a tarte de requeijão (6 euros), encimada por açúcar queimado. Vinho: Prova Régia branco 2001 (16 euros), correcto. O gaspacho (8 euros) de uma outra refeição cumpria os cânones da versão andaluza desta sopa fria: tomate maduro quase com a consistência de sumo, engrossado com miga de pão de trigo e temperos de azeite, sal, vinagre, alho e água gelada. Como guarnição, aos cubinhos, uma das possíveis: pão, pimento, pepino, tomate. Seguiuse o cabrito assado à Souto-Mor. Bichinho de excelente qualidade, de carne tenra e rosada, mas de tempero um pouco agressivo, devido à presença de massa de pimentão, pareceu-me.
Magnífica para carne de porco e, até, para o borrego, a massa de pimentão agride os sabores delicados do cabritinho mamão, transmitindo-lhe umqueimoso desagradável. O arroz de miúdos com ervilhas não tinha grande sabor e as batatinhas não eram das cozinhadas na assadeira. Sobremesa: gelado (4 euros), sem história. Vinho: Porta dos Cavaleiros 1985 tinto (22 euros), do Dão, evoluído e harmonioso. Finalmente, dois clássicos da casa: espadarte fumado (14 euros), de cura e corte perfeitos, com o seu jardim: alcaparras, cebola, salsa e ovo cozido picadinhos; e, era quarta-feira, a sopa rica de peixes (28 euros). A receita deste prato, inspirada na proletária caldeirada à fragateira, é atribuída a Sobral Portela que, com Abelardo Teixeira, Armindo Seone e Jaime Gonzalez, foi proprietário do Gambrinus, está muito menos rica. Nos mariscos, da receita original, apresentou-se sem camarões do Algarve e sem lagostins. Da família, só uma gamba grande descascada, a enfeitar. Tinha uns berbigões mirrados e umas amêijoas pequenas descascadas, bem como pedaços de cherne, safi o e tamboril, como prevê a receita. No fundo do recipiente de serviço, as canónicas fatias de pão torrado. O caldo, com o seu toque açafroado, não estava mal.
- Nome
- Gambrinus
- Local
- Lisboa, Santa Justa, Rua das Portas de Santo Antão, 23
- Telefone
- 213421466
- Horarios
- Todos os dias das 12:00 às 01:30
- Website
- http://www.gambrinuslisboa.com
- Preço
- 65€
- Cozinha
- Trad. Portuguesa
- Espaço para fumadores
- Sim