Voltar a olhar bem do alto para o Porto
Vê-se todo o Porto, as pontes, o rio, a foz e o oceano até à linha do horizonte, mas no Portucale pode ver-se também a essência e o requinte da cozinha tradicional portuguesa. Não é, portanto, de ânimo leve que se visita e se fala desta casa histórica da restauração portuguesa. Passaram já mais de quatro décadas desde a abertura (em 1969), período quase sempre de glória como farol da gastronomia portuense e durante muito tempo até como o único grande restaurante do Norte.
Mas não se pode também falar do Portucale sem o associar ao saudoso Ernesto Azevedo, o verdadeiro mestre-de-cerimónias que foi o seu criador, mentor e a alma que desde sempre lhe esteve associada. Com o seu afastamento e posterior desaparecimento, dizem-nos, a casa foi perdendo chama e fulgor, isto num tempo em que no Porto foram surgindo novos espaços dedicados a gastronomia mais cuidada e exigente. A casa nunca deixou de ser comandada pela família Azevedo e os ecos de nova dinâmica e um impulso de rejuvenescimento eram, só por si, já muito mais que uma boa notícia.
Impunha-se, portanto, voltar a subir ao ponto mais alto da cidade a ver se também na perspectiva gastronómica este é o lugar adequado para olhar o Porto de cima. E a primeira conclusão é que muito pouco, ou quase nada mesmo, mudou em relação aos tempos de glória das décadas de 70, 80 e 90 do século findo. Cozinha de excelência ancorada na gastronomia regional e produtos de qualidade irrepreensível, num ambiente de charme e romantismo que assumidamente nos coloca num tempo pertencente ao passado. Uma pérola, sem dúvida. Daqueles sítios onde, independentemente do preço (que é carote), há que ir pelo menos uma vez na vida.
A localização é fabulosa. O 13.º andar da torre da Cooperativa dos Pedreiros é o ponto mais alto da cidade e as fachadas envidraçadas proporcionam amplas vistas sobre o Porto. Todo o casario, o Douro, o Atlântico até à Póvoa de Varzim e até as neves no Marão em tempo de Inverno, tudo é companhia para a refeição. A decoração e mobiliário remetem para o topo do requinte e do glamour da segunda metade do século passado, de que são exemplo as tapeçarias de Guilherme Camarinha que emolduram as paredes, ou os belíssimos candeeiros de pé inclinado que se projectam sobre cada uma das mesas. Cadeiras de braços e de grande conforto, toalhas e guardanapos de branquíssimo linho, elegante louça pintada da Vista Alegre e talheres de prata, tudo da época e a compor o ambiente, que é ao mesmo tempo clássico, confortável e descontraído.
Além do pão, manteiga e um paté, um pratinho com miniaturas de bolinhos de bacalhau, croquetes de vitela e cubinhos de bola de presunto logo indiciam estarmos perante o mais apurado da cozinha regional. A lista é extensa, constando de uma dúzia de acepipes, que vão desde corações de alcachofra com toucinho fumado (9€) até camarão gigante com molho picante (39,50€); seis sopas (5€/8,50€); cinco pratos de ovos (9,50€/19€); sete peixes, incluindo os bacalhaus (14€/28€); e seis carnes (18€/26€). Há ainda legumes e outros acompanhamentos (5€/12,50€); queijos e doces e frutas (3,50€/17€).
- Nome
- Portucale
- Local
- Porto, Bonfim, R. da Alegria, 598 - 14º (Cooperativa dos Pedreiros)
- Telefone
- 225370717
- Horarios
- Todos os dias das 12:30 às 14:30 e das 19:30 às 23:00
- Website
- http://www.miradouro-portucale.com
- Preço
- 40€
- Cozinha
- Internacional
- Espaço para fumadores
- Não